Quando Lula disse que “não dá para a gente ficar nessa
lenga-lenga” na questão ambiental para a exploração das reservas de petróleo da
chamada Foz do Amazonas foi ao olho do problema.
É sabido que a centenas de quilômetros do litoral norte do
continente, nas águas do Amapá, há uma rica província petrolífera. Chamá-la de
Foz do Amazonas é um truque de retórica, pois esse estuário fica a 500
quilômetros da chamada Margem Equatorial. Explorando-a, a Guiana e o Suriname
vivem um período de bonança. Em 2013, a Petrobras, num consórcio internacional,
arrematou o lote FZA-M-57 para sua eventual exploração. O que se pretende para
toda a área é uma licença para novas perfurações. Defendendo o meio ambiente, o
Ibama congelou a pesquisa.
Há anos o Ibama e a Petrobras estão numa
lenga-lenga. O Ibama pede garantias, a Petrobras responde e o instituto pisa no
freio. Em outubro passado, 26 técnicos do Ibama rejeitaram o material enviado
pela empresa e recomendaram não só indeferimento do pedido de licença, mas o
arquivamento do processo. O presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, abriu uma
janela, pedindo novos estudos e providências à Petrobras. (Agostinho está na
mesa das frituras do Planalto.)
Os riscos de vazamento de óleo, bem como os eventuais danos
à fauna aquática, envolvem complexas questões técnicas. Nesse campo, tanto a
Petrobras quanto o Ibama são entidades respeitáveis, a menos que suas posições
estejam contaminadas por outros objetivos.
Uma petroleira estaria contaminada se tivesse um passado de
irresponsabilidade. Não é o caso da Petrobras. Um instituto de defesa do meio
ambiente estaria contaminado se, na raiz de suas objeções, estiver uma pura e
simples condenação da exploração de combustíveis fósseis. Nesse caso, o que
Lula chamou de lenga-lenga, chama-se trava.
A associação dos servidores do Ibama soltou uma nota
condenando a fala de Lula com sólidos argumentos institucionais. Não enumerou
um só fato que desminta que há uma lenga-lenga na decisão do que em burocratês
se chama de Avaliação Ambiental de Área Sedimentar ou AAAS.
Apesar da grandiloquência, a nota reconheceu: “Porém, não se
tem notícias de pressão do Palácio do Planalto para que a AAAS saia do papel.”
Zero a zero, bola ao centro. Não tendo havido pressão, haveria lenga-lenga,
disfarce da trava.
Em terra firme, os ambientalistas enfrentam os
agrotrogloditas e muitas vezes se valem de travas. Em alto mar, a Petrobras já
mostrou que não é uma petrotroglodita, mas está sendo tratada como se fosse.
Afinal, se um sujeito é contra a exploração de combustíveis fósseis, a própria
lenga-lenga seria perda de tempo.
Muita gente boa do universo ambientalista usa a trava para
exercer seu poder. Trata-se de uma tática tóxica. Por irracional, robustece
trogloditas do outro lado, e eles já governaram o Brasil.
A criação da Autoridade Climática é um exemplo do uso da
trava para preservar quadrados de poder burocrático. No início de 2024 ela era
uma promessa de campanha de Lula, mas foi esquecida. Em setembro, diante dos
fogaréus, ele anunciou em Manaus que criaria essa nova entidade. Cadê?
A promessa está atolada no manguezal onde se chocam duas
visões. Numa, a Autoridade ficaria apensa à Presidência da República, com
poderes sobre todos os ministérios. Noutra, ela ficaria dentro do Ministério do
Meio Ambiente, preservando-se todos os quadrados de poder da burocracia
ambiental. O projeto está na Casa Civil, submetido a outra lenga-lenga.
Serviço
O Amapá é brasileiro desde 1900 porque foi conquistado no
tapa e na lábia aos espanhóis, holandeses, ingleses e franceses. No site do
Senado dois livros contam essa bela história.
Um é “Amapá: A terra onde o Brasil começa”, de José Sarney e
Pedro Costa. O outro é “Santana da Amazônia — A ocupação e conquista de Santana
e o seu papel para a consolidação da Amazônia brasileira”, de Marlus Carvalho.
Ambos grátis em PDF.
Tiro na têmpora
O entorno do ex-presidente Jair Bolsonaro festejou
freneticamente a eleição de Donald Trump. Sua mulher e um de seus filhos foram
às festas periféricas da posse e o governador de São Paulo, Tarcísio de
Freitas, enfeitou-se com o boné trumpista.
Registre-se que esse tipo de servidão voluntária é coisa
nunca vista na história de Pindorama. Nenhuma relação de presidente brasileiro
com americano foi tão estreita quanto a de Emílio Médici com Richard Nixon. Em
1971, quando o general visitou-o na Casa Branca, ele festejou: “Para onde for o
Brasil, irá o continente latino-americano.” Bingo. Anos depois, Chile, Uruguai
e Argentina eram ditaduras militares.
Os palacianos exultaram, mas o embaixador Mário Gibson
Barboza, chanceler de Médici, não achou a menor graça e comentou: “Foi um
verdadeiro beijo da morte.”
Os trumpistas nacionais beijaram a morte a troco de nada.
Cada brasileiro que venha a perder seu emprego por causa das tarifas
protecionistas de Trump haverá de se lembrar do frenesi nativo.
Sábio foi o petista que teve a ideia do boné: “O Brasil é
dos brasileiros.”
Eremildo, o idiota
Eremildo é um idiota, desempregado crônico (porque tem
horror ao trabalho) soube que o governo quer investigar a morte do
ex-presidente Juscelino Kubitschek, em 1976.
O cretino vai a Brasília para pleitear um lugar (remunerado)
na equipe que fará a investigação. Como JK morreu há 48 anos, Eremildo propõe
que o contrato da equipe tenha pelo menos dez anos de duração.
JK viajava pela Dutra no banco de trás de um Opala. Seu
carro bateu num ônibus que viajava no mesmo sentido, desgovernou-se, atravessou
a pista e chocou-se com uma carreta que vinha em sentido contrário.
Geraldo Ribeiro, o motorista de JK, o acompanhava há anos,
morreu com ele e com ele foi velado no saguão da falecida Revista Manchete, no
Rio.
A despedida de JK, com seu caixão levado pelo povo ao
aeroporto do Centro do Rio e seu enterro em Brasília, foi a primeira grande
manifestação popular desde a grande passeata de 1968.
O povo cantava a modinha predileta daquele homem que sabia
sorrir:
“Como pode um peixe vivo
Viver fora da água fria?
Como poderei viver
Sem a tua companhia?”
A denúncia de Gonet
O procurador-geral Paulo Gonet está fechado em copas sobre a
sua denúncia referente ao ex-presidente Bolsonaro e suas turmas.
Primeiro correu que ele empacotaria a tentativa de golpe, a
mutreta das joias sauditas e a falsificação de atestados de vacina contra a
Covid. Seria uma mistura de bacalhoada com churrasco e feijoada.
Agora, fala-se em denúncia fatiada. Resta saber como
tramitará.
Ficará mais fácil se ela seguir o caminho mais simples: três
delitos, três denúncias e três processos.
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