Reação viria com Pé de Meia, Gás para Todos, consignado e
menos IR se Congresso deixar
No meio da noite, o bêbado pede ajuda a um policial para
achar as chaves que perdeu. Procura perto de um poste de luz. O policial
pergunta se o homem as perdeu mesmo por ali. O bêbado diz que deve ter perdido
as chaves em uma praça escura: procurava perto do poste porque havia mais luz.
É piada velha de cientistas.
Por que o prestígio de Lula caiu
tanto? A gente pode procurar a explicação onde há mais luz. Nos números da
inflação, por exemplo, da comida em particular. Resolve?
No início de 2024, a popularidade de Lula 3
tropeçou. A inflação anual
da comida ficara abaixo de zero de agosto a dezembro de 2023. O problema eram
os preços, como se dizia?
A carestia da comida piorou ao longo de 2024. Foi a 8,4% ao
ano em novembro. Mas o número seco da inflação não diz muito, necessariamente.
Se o salário cresce mais do que a inflação, se o poder de compra aumenta, em
princípio o problema se resolve.
O salário cresce acima do IPCA médio. Mas perde da comida.
De dezembro de 2019, pré-epidemia, a dezembro de 2024, o preço médio do
alimento que se leva para casa aumentou 56%; o salário médio, nominal, 43%.
Para os mais pobres, que gastam mais em comida, essa carestia achatou de modo
notável o resto do orçamento miúdo. O problema vai demorar a passar e volta a
ser sentido com qualquer nova onda de carestia, mesmo que esta onda nem seja
das piores deste século.
Houve recuperação do valor do salário real médio em 2023 e
2024 (7,6% além da inflação). Mas, em relação a 2019, a alta foi só de 6,5%. O
país ficou empobrecido por muito tempo.
Sob o poste de luz, no fim de 2024 e início de 2025, vimos:
1) o pânico
financeiro de dezembro (que pode passar a impressão de descalabro); 2)
a revolta do Pix;
3) alta
de juros (que não chegaram ainda com força ao crédito bancário,
porém).
O
caso do Pix pode ter deixado marca profunda. De 2018 para 2023, a
parcela da população adulta que usava serviços financeiros passou de 47% para
88%. Os pobres recém-bancarizados teriam ficado com medo. O "imposto
das blusinhas" já irritara os não tão pobres.
Por que a revolta do Pix teria tido tanto efeito? A
confiança em Lula, no governo ou mesmo no Estado já andaria baixa? Sim, tem a
"polarização" também, mas essa não mudou.
Se os aumentos recentes de renda do trabalho e, ainda
maiores, de benefícios sociais não fizeram efeito, o pacote de 2025 vai
adiantar?
Não seria coisa pequena. A isenção ou redução do IR para
quem ganha até R$ 7.000 mensais pode chegar a 16 milhões de pessoas, com
benefício médio anual de R$ 2.200. Vai passar no Congresso, ainda mais com Lula
fraco? Valeria apenas em 2026.
A extensão do consignado pode baratear o crédito para
dezenas de milhões. Lula promete crédito mais fácil para microempreendedores.
Prometeu Gás
para Todos para 22 milhões de famílias (só há dinheiro previsto para
5,5 milhões). O Pé
de Meia deve chegar a 3,9 milhões de estudantes, com benefício médio
anual de R$ 3.200.
Segundo pesquisa Ipec, 62% do eleitorado não quer Lula
candidato em 2026. A inflação é pouco citada como motivo de rejeição. "Não
fazer um bom trabalho", "corrupção" e idade são de longe os
motivos principais declarados.
Já vimos reviravolta grande de popularidade, para cima e
para baixo. De mais diferente agora, em relação a Lula 1 e 2: o prestígio de
Lula 3 jamais foi alto.
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