Nos últimos anos, os profetas do mercado financeiro
erraram feio ao prever crescimento muito abaixo do ocorrido
Chamou a atenção da comunidade acadêmica um discurso do novo
membro do Comitê de Política Monetária do Banco da Inglaterra, o professor Alan
Taylor, da Columbia University. A fala é dedicada basicamente à economia do
Reino Unido, mas traz lições para os bancos centrais em geral.
Ao discursar na Leeds University Business School, em
janeiro, Taylor não estava otimista sobre as perspectivas econômicas de seu
país nem dos parceiros ocidentais e orientais. Ele acha que pode haver pouso
suave ou forçado da atividade no segundo semestre. O “soft landing” ou o “hard
landing”, no economês global, vai depender muito de decisões dos bancos
centrais sobre juros. Por isso, ele votou pela redução da taxa no Reino Unido
para 4,50% em dezembro, mas a maioria dos membros aprovou a manutenção em 4,75%.
Na semana passada, o Banco da Inglaterra reduziu a taxa para os 4,50%
defendidos por Taylor, mesmo prevendo que a inflação atingirá o pico de 3,7%,
quase o dobro da meta de 2%.
O que torna o discurso de Taylor diferente
do de outros membros de comitês monetários, especialmente do Brasil, é sua
explícita preocupação com a atividade econômica. Ele prevê um cenário cada vez
mais sombrio para 2025 na Inglaterra e em muitos outros países. O crescimento
do PIB começou a parar e os indicadores gerais de confiança tornaram-se mais
pessimistas.
Esse cenário não é muito diferente do brasileiro,
principalmente levadas em conta as expectativas empresariais e do mercado
financeiro. Nesse contexto, Taylor sugere que os bancos centrais não podem ter
apenas olhos voltados para a inflação, mas também para uma possível recessão,
que tem custos muito elevados. A maioria das expansões é lenta e cumulativa,
como “uma subida gradual de escadas”. As recessões, porém, se instalam
rapidamente, “fazendo descida de elevador”.
Essas constatações, segundo Taylor, deixam um alerta para a
possível necessidade de uma retirada mais ativa das restrições da política
monetária. “Será preciso ter um compromisso crível e um objetivo político para
ao mesmo tempo reduzir a inflação, manter as expectativas ancoradas e evitar a
volatilidade indevida na produção.”
Na Inglaterra, a aceleração da inflação no período
pós-pandemia até o pico de 11,1% ao ano em outubro de 2022 foi basicamente
decorrente de um choque de oferta, com o grande aumento dos preços do petróleo,
gás natural e outras matérias-primas. Esse choque levou a uma inflação mais
elevada de alimentos, bens e serviços. E bancos centrais não têm o poder de
eliminar instantaneamente os efeitos inflacionários de choques externos como
esse.
O cuidado ao estabelecer os juros, segundo o professor
Taylor, deve levar em conta que as taxas têm forte impacto no fluxo de caixa
das empresas e nos rendimentos reais das famílias. Assim, diminui não só a
procura final de investimentos das empresas, mas também o consumo privado. Esse
efeito pode ser atenuado em parte por despesas orçamentárias dos governos, mas
há limites fiscais e esses incentivos não podem ter longa duração.
No fim de janeiro (dia 29), o BC do Brasil aumentou a taxa
básica de juros de 12,25% para 13,25% e confirmou idêntica elevação para março.
Isso atende a previsões do mercado financeiro, mas pode ser um risco para a
economia. O compromisso assumido com essa elevação da taxa pode colaborar para
um “hard landing” surpreendente, porque recessões têm ritmos implacáveis.
Aliás, um pouso forçado no segundo semestre é tudo o que a oposição precisa
para a campanha eleitoral de 2026.
Taylor acha que a economia do Reino Unido e de outros
grandes países está mais a caminho do “soft landing”, mas alerta para
“turbulências e ventos cruzados” (maluquices de Trump, por exemplo?). O melhor
a fazer, portanto, será ficar esperto para tentar manter a aterrissagem suave.
No Brasil, há também previsão de desaquecimento. O Copom, em
sua ata da semana passada, diz haver “sinais incipientes” de moderação no
crescimento, mas nenhuma evidência, “mesmo incipiente, de desaceleração
abrupta”. Mas a indústria já não cresce há dois trimestres e a produção de bens
de capital, como mostrou o Valor de quinta-feira, caiu
abruptamente: a expansão, de 9,1% no ano passado, deve ser de menos de 2% em
2025.
Os alertas dominantes, por aqui, são sobre a inflação e a
dívida pública. Poucos citam, por enquanto, o risco de uma recessão, que sempre
tem custos estratosféricos. E quando citam, nossos clínicos econômicos receitam
dois remédios preventivos: mais austeridade fiscal e mais corte de gastos.
(Uai, não seria o contrário?).
Ao citar o cenário-base prospectivo de desaceleração da
atividade no Brasil, o Copom lembra que percepções semelhantes no passado
recente foram revertidas. Em outras palavras, nos últimos anos, os profetas do
mercado financeiro erraram feio ao prever crescimento muito abaixo do ocorrido.
Quem sabe errem novamente. Afinal, como diz Taylor, “fazer previsões é muito
difícil, especialmente no que diz respeito ao futuro”.
E o dólar?
Fiscalistas radicais estão sendo cobrados à esquerda e à
direita. Quando o dólar subiu até R$ 6,29, em 18 de dezembro, eles puseram
grande parte da culpa ao desarranjo fiscal brasileiro. Não houve, de lá para
cá, nenhum rearranjo e o dólar caiu para até R$ 5,70. O “fiscal” é importante,
mas não pode ser remédio para todos os males, até para unha encravada.


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