Tanto Motta quanto Alcolumbre sinalizam que pretendem
fortalecer Haddad. O ministro da Fazenda é muito criticado pela bancada do PT
O Banco Central comunicou ao mercado, nesta terça-feira, que
suas expectativas de inflação aumentaram de forma significativa nos últimos
meses, a curto e a longo prazos. Registrou, especialmente, a alta do preço dos
alimentos, conforme a ata da reunião do Conselho de Política Monetária (Copom).
Realizada na semana passada, a primeira sob a presidência de Gabriel Galípolo,
a reunião subiu os juros de 12,25% para 13,25% (Selic) e manteve a previsão de
que deverão chegar a 15% até junho.
O BC atribuiu a inflação dos alimentos à estiagem e ao
aumento do preço das carnes, por causa do câmbio. A ata do Copom também afirma
que o dólar pressiona preços no Brasil e, por isso, os produtos
industrializados podem ficar mais caros. Entretanto, o dólar recuou mais uma
vez nesta terça-feira, a R$ 5,77, voltando ao patamar de novembro passado. Há
12 dias consecutivos está em queda. A variável que influencia a queda do dólar
é o aumento de tarifas proposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump,
mais fraco do que se previa, depois de acordos com o Canadá e o México.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad,
porém, avalia que o comportamento do câmbio deve influenciar na inflação dos
alimentos para baixo. "O dólar estava a R$ 6,10 e agora já está a R$ 5,80.
Então, isso já ajuda muito. Então, trazendo com a ação do Banco Central, a ação
do Ministério da Fazenda, essas variáveis macroeconômicas se acomodam em outro
patamar e isso, certamente, vai favorecer", disse o ministro, na manhã
desta terça-feira.
A inflação do grupo alimentos e bebidas, calculada pelo
Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), atingiu 14,08%, o maior aumento
percentual no indicador desde 2021. Esse grupo deve manter a trajetória de alta
no IPCA de janeiro, que será divulgado na próxima sexta-feira. Segundo a
Associação Brasileira de Supermercados (Abras), 12 dos principais alimentos
básicos vendidos em redes varejistas registraram uma valorização de 14,22% nos
12 meses do ano passado, em relação ao mesmo período de 2023.
Em dezembro do ano passado, a cesta desses produtos custava
R$ 345,23. No mesmo período de 2023, o valor era de R$ 302,24, segundo a Abras.
Na cesta com 35 produtos de largo consumo, a alta foi de 9,96%. Subiu de R$
722,57, em 2023, para R$ 794,56, em 2024, na média nacional. As maiores altas
foram registradas na carne bovina — cortes do dianteiro ( 25,25%).
Os maiores aumentos foram o café torrado e moído ( 39,60%),
seguido por óleo de soja ( 29,22%), leite longa vida ( 18,83%) e arroz (
8,24%). Já as quedas foram puxadas pelo feijão (-8,58%) e pelo açúcar refinado
(-0,41%). Os preços dos hortifrutigranjeiros registraram deflação no ano:
cebola (-35,31%), tomate (-25,87%), batata (-12,54%). A maior alta da cesta
básica veio do Sudeste ( 17,05%), seguida por Centro-Oeste ( 15,76%), Nordeste
( 12,15%), Sul ( 12,04%) e Norte ( 9,94%).
Agenda econômica
Na contramão do BC, Haddad está muito confiante: "A
safra deste ano, por todos os relatos que eu tenho tido do pessoal do agro, vai
ser uma safra muito forte. Isso também vai ajudar", concluiu. O ministro
promete encaminhar ao Congresso, ainda nesta quarta-feira, uma agenda com 25
propostas para a economia.
No pacote, estão a regulamentação das big techs, para evitar
monopólio de mercado das grandes plataformas digitais, a reforma da previdência
dos militares, a limitação dos supersalários, a nova lei de falências, o
fortalecimento de proteção a investidores no mercado de capital e a
modernização no regime de concessão e PPPs. Não é uma agenda fácil.
Essa agenda será apresentada inicialmente ao novo presidente
da Câmara, Hugo Motta (PR-PB), que antecipou o início das sessões de terça e
quarta-feira para 16h e quer a presença física dos parlamentares em plenário
para debater as matérias. Motta submeterá as pautas da Casa aos líderes de
bancada, porém sem abrir mão de decidir quando serão votadas.
Tanto Motta quanto o presidente do Senado, Davi Alcolumbre
(União-AP), sinalizam que pretendem fortalecer Haddad. O ministro da Fazenda é
muito criticado pela bancada do PT, por defender um ajuste fiscal que enfrenta
resistências do próprio presidente Lula, cuja menina dos olhos na agenda
econômica é a reforma do Imposto de Renda, com a taxação dos muito ricos
e a isenção do imposto para os que têm renda de até cinco salários
mínimos.


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