Partido tem dificuldades para renovar quadros e discurso
A média de idade dos deputados federais no Brasil em 2022,
data da eleição, era 49 anos. É consideravelmente maior que a do atual
presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), 35 anos hoje, 33 quando
saiu das urnas. Mas é bem menor que a média de idade dos deputados do PT, um
pouco menor que 56 anos. A bancada federal petista é aproximadamente uma
geração mais velha do que o parlamentar paraibano.
O ano padrão de nascimento dos seus integrantes oscila entre
1966 e 1967, época em que estavam sendo constituídos a Arena e o MDB, partidos
do regime militar. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda não fazia parte
da direção do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo . Em sua
maioria, os deputados petistas eram adolescentes em 10 de fevereiro de 1980,
quando, em uma reunião no Colégio Sion, em São Paulo, foi fundado o PT, há
exatos 45 anos.
O PT já foi retrato da renovação política
no Brasil em suas primeiras décadas, mas desde a ascensão de Lula à presidência
em 2002 passa por um acentuado envelhecimento de suas lideranças, o que
sinaliza para problemas de renovação.
Naquela eleição de 2002, a média de idade dos deputados
federais eleitos pelo PT era de 47 anos. A cada eleição essa idade média deu um
salto, até chegar a 57 anos em 2018, recuando um ano agora. Não há informações
completa no site da Câmara sobre a data de nascimento dos parlamentares antes
de 2002, mas a média etária da diminuta bancada de oito petistas eleita em 1982
era de 38 anos.
Esse PT de cabeça branca enfrenta o dilema de entrar na
disputa nacional em 2026 sem nenhuma alternativa minimamente competitiva para
substituir Lula, caso o presidente não queira concorrer pela oitava vez em uma
eleição presidencial. Em 2018 Lula se candidatou, mesmo inelegível, e foi
substituido três semanas antes da disputa pelo atual ministro da Fazenda
Fernando Haddad.
A reeleição de Lula em 2026 está longe de ser um cenário
improvável, a julgar pelas últimas pesquisas. Mas falta ao PT opções para o
longo prazo. Há quem especule com a presença de João Campos (PSB) prefeito do
Recife, na sucessão presidencial de 2030, ou do deputado Nikolas Ferreira
(PL-MG) em 2034. Essa é uma futurologia muito difícil de ser feita em relação
ao PT. Não se vê peças de reposição.
O partido que celebra seu aniversário no fim do mês em um
evento no Rio de Janeiro cresceu lentamente, teve seu auge entre 2002 e 2012.
Há 23 anos foi a legenda mais votada para a Câmara, com um desempenho bastante
semelhante ao do PL nas últimas eleições.
Em 2012 conquistou seu número máximo de prefeitos.
A descida ao vale sombrio se deu entre 2016 e 2020, na
esteira da Lava-Jato e do impeachment da então presidente Dilma Rousseff, que
deixaram duas cicatrizes inapágaveis na sigla: corrupção e má gestão na
economia. O partido se reergueu em 2022 quando a maior parte do eleitorado
brasileiro preferiu se voltar em direção ao passado do que encarar um futuro
com a extrema-direita no comando.
A “União e Reconstrução” do governo Lula era e é o que pode
ser apresentado, face à dificuldade do PT de pautar a agenda nacional. Essa é
uma dificuldade que se torna naturalmente maior quando se é o partido de um
presidente que governa em minoria no Congresso. Lula depende da antiga base
governista de Bolsonaro para ir tocando o barco. Sem entrar no mérito das
propostas, as formulações recentes que chamaram a atenção da opinião pública
vindas da esquerda partiram do pequeno Psol.
Qual foi a bandeira do PT nos últimos dois anos para tentar
ampliar o eleitorado? E aliás qual é exatamente a estratégia? romper a
polarização, fazendo acenos ao Centro? Encarar a polarização como inevitável e
apostar no antagonismo com a Direita? Não está claro.
O PT nasceu em 1980 da força do sindicalismo, do catolicismo
rural e da intelectualidade que chegou a pegar em armas contra o regime
militar. Há um relativo consenso, muitas vezes verbalizado por Lula, de que
estes três veios não correm mais nos dias de hoje. De que corrente nacional
poderá vir o novo petista é outra pergunta em aberto.
A angústia petista torna-se mais expressiva porque a
encruzilhada da esquerda não é um fenômeno puramente brasileiro, como procuram
provar cotidianamente Elon Musk e Donald Trump. O avanço da direita deve dar um
novo salto ainda este mês, com as eleições na Alemanha. O Canadá deve dar a sua
guinada no fim do ano. A Argentina consolidar sua conversão em outubro. Os
tempos não são de festa para o PT.


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