Por que a aposta de corte dos juros nos EUA pode tornar o
real a moeda mais atrativa dos emergentes
Voltam à tona operações de ‘carry trade’, quando os
investidores tomam dinheiro emprestado em países com juros baixos para investir
nos ativos de países com elevadas taxas de rendimento
Desde que as declarações da semana passada do presidente do
Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, alimentaram as apostas de um corte dos
juros na próxima reunião de política monetária nos Estados Unidos, voltou à
tona com toda força um tema que sempre beneficia os mercados emergentes: as
operações de “carry trade”, quando os investidores tomam dinheiro emprestado em
países com juros baixos para investir nos ativos de países com elevadas taxas
de rendimento.
A discussão agora é sobre qual país
emergente poderá receber um fluxo maior de capital do investidor estrangeiro,
dando um novo impulso de valorização à moeda em relação ao dólar. Entre os
mercados emergentes, habitualmente os maiores beneficiados das operações de
carry trade são Brasil, México e África do Sul.
Na sexta-feira, quando as apostas de cortes de juros pelo
banco central americano aumentaram, o dólar caiu 0,97% ante o real brasileiro,
para R$ 5,42; cedeu 0,94% em relação ao peso mexicano, para 18,58; e recuou
1,53% ante o rand sul-africano, para o patamar de 17,44.
O principal fator de atratividade do capital estrangeiro em
busca de maior ganho é o diferencial de juros entre a taxa básica americana e
as praticadas nos países emergentes. Mas, nessa decisão de onde destinar seu
dinheiro, o investidor também leva em conta a volatilidade, que pode corroer a
rentabilidade da operação. E essa volatilidade pode ser afetada por riscos
domésticos, como fiscais e políticos, e externos, como a guerra tarifária do
presidente Donald Trump.
Do ponto de vista do diferencial de juros, o Brasil pode
levar vantagem sobre o México e a África do Sul. Conforme a pesquisa Focus, o
ciclo de corte de juros pelo Copom deve levar a taxa Selic de 15%, hoje, a
12,50% ao fim de 2026. No México, os analistas preveem que o Banxico irá cortar
os juros em 0,25 ponto porcentual em setembro, para 7,50%, com o mercado
estimando uma taxa a 6,75% no fim do ano que vem. Na África do Sul, a mediana
das projeções aponta juros a 6,5% no fim de 2026.
Ou seja, nesse horizonte de tempo o diferencial de juros
tornará provavelmente o real brasileiro a moeda mais atrativa entre os
emergentes. Nos EUA, a aposta majoritária é de uma redução de 0,50 ponto até o
fim deste ano, levando a taxa básica para a faixa de 3,75%/4,0%. Em 2025, o
dólar acumula queda de 12% ante o real. Por ora, o investidor vem relevando os
riscos fiscais no Brasil. A dúvida é se o ruído político com a eleição
presidencial de 2026 fará a volatilidade disparar, sabotando o carry trade. •


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