Livro conta a história de conceito econômico por trás de
juros e prêmios de risco
Fenômeno também explica dificuldade para ações firmes no
enfrentamento da mudança climática
Ao menos para economistas, o futuro vale menos do que o
presente. Prêmio de risco e preço da paciência estão entre as razões evocadas
para justificar o chamado desconto do futuro e fenômenos a eles associados,
como a taxa de juros. O desconto do futuro é também um dos motivos por que é
tão difícil coordenar as ações de países para enfrentar a mudança climática.
"Discounting the Future", de Liliana Doganova, é
um interessante passeio pela lógica, contradições, cálculos interessados e
falta de visão que nos levam a descontar o futuro.
Doganova começa nas florestas europeias do
século 19. Qual é o momento certo para abater as árvores? Quem depende de lenha
para cozinhar tem pressa. Quem pode esperar prefere que as árvores estejam
maiores. Mas o ciclo das melhores madeiras é tão longo (300 anos) e tão
incompatível com a expectativa de vida humana que alguns chegaram à conclusão
de que florestas só poderiam ser administradas por entidades imperecíveis como
o Estado.
A autora também analisa como o desconto do futuro se dá na
indústria farmacêutica, um mercado em que a incerteza impera, e como foi
utilizado na avaliação do valor das minas de cobre chilenas, tanto para fins de
nacionalização, sob Allende, quanto de concessão à iniciativa privada, com
Pinochet.
Não costumo comentar o que livros deixam de dizer, mas não
resisto a fazê-lo hoje, destacando duas questões. Doganova não se furta a
discutir questões filosóficas. Ela cita autores como Marx, Amartya Sen e Daniel
Innerarity, mas é uma pena que não tenha dedicado ao menos algumas páginas a
Derek Parfit, que tem ótimas reflexões sobre o tema que geram boas respostas
para o problema climático.
Já viajando um pouco, acho que dá para afirmar que o
desconto do futuro está de algum modo inscrito na biologia. O processo de
senescência nada mais é do que o pouco valor que a seleção natural dá a
mutações que só provocam problemas de saúde tarde na vida do indivíduo. É
porque a evolução desconta o futuro que envelhecemos e morremos.


Nenhum comentário:
Postar um comentário