Morre Mãe Carmen, ialorixá do Terreiro do Gantois, aos 98
Ela era filha de Mãe Menininha do Gantois e liderava há
23 anos um dos terreiros mais tradicionais do país
Líder religiosa deixa duas filhas, três netos e quatro
bisnetos
Salvador Morreu na madrugada desta sexta-feira (26)
em Salvador Mãe Carmen Òṣàgyían, ialorixá do Ilé Ìyá Omi Àṣẹ Ìyámase, o
Terreiro da Gantois, e herdeira de uma linhagem que pavimentou a história do
candomblé no Brasil.
Ela tinha 98 anos e estava internada no Hospital Português,
em Salvador. A causa da morte não foi informada.
Mãe Carmen liderava havia 23 anos o Terreiro da Gantois casa
de origem iorubana em Salvador fundada em 1849. Era filha mais nova de Mãe
Menininha do Gantois, célebre ialorixá que ajudou a difundir as religiões de
matriz africana na segunda metade do século 20.
Assumiu a liderança do Terreiro do Gantois em 2002 após a
morte da irmã, Mãe Cleusa, que comandava a Casa desde a morte de Mãe Menininha,
em 1986. Era conhecida pelo perfil discreto e zelo com a comunidade.
"Mãe Carmen nasceu para o sagrado", disse em nota
a Associação de São Jorge Ebé Oxóssi, ligada ao Terreiro do Gantois.
Nascida em Salvador, ela iniciada no candomblé aos 7 anos.
Ela foi formada nos fundamentos, nos ritos e nos saberes do candomblé e teve
uma infância marcada pela preparação espiritual: "Nada em seu caminho foi
acaso, foi legado, destino, desígnio dos Orixás", informou a entidade.
Casou-se com José Zeno da Silva, com quem teve duas filhas.
Era contadora e trabalhou no Tribunal de Contas do Estado. Em 2002, assumiu o
trono do Gantois, dando continuidade à linhagem familiar.
Por seu trabalho de preservação das tradições do candomblé e
manutenção de um diálogo inter-religioso, foi agraciada em 2010 com a
"Medalha dos 5 Continentes ou da Diversidade Cultural". Em 2023,
recebeu da Câmara Municipal de Salvador a Comenda Maria Quitéria, honraria
concedida a mulheres que se destacam em suas atividades.
A Associação de São Jorge Ebé Oxóssi destacou sua liderança
marcada pelo cuidado, dedicação, firmeza, sabedoria e continuidade de uma
tradição ancestral.
"Mãe Carmen foi farol, colo, caminho e fortaleza. Sua
palavra ensinava, seu silêncio acolhia, e seu fazer cotidiano era atravessado
pela entrega, pelo respeito aos Orixás e pelo compromisso com a vida coletiva.
Em seu corpo e em sua condução, a herança de Mãe Menininha permaneceu viva,
pulsante e afirmada dia após dia", informou a entidade.
Em 2019, Mãe Carmen foi
celebrada no disco "Obatalá: Uma homenagem à Mãe Carmen", gravado
pelo Grupo Ofá —formado por Iuri Passos, Yomar Asogbá, José Maurício
Bittencourt e Luciana Baraúna– e com participação de artistas como Gilberto
Gil, Ivete Sangalo e Margareth Menezes. O disco traz 14 orikis, textos poéticos
em reverência aos orixás, e mais três canções que exaltam a mãe de santo.
O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), lamentou a
morte da líder religiosa, prestou solidariedade à família e destacou a
trajetória de Mãe Carmen.
"Sua condução do Terreiro do Gantois, um dos mais
tradicionais do nosso estado, representa um pilar para o fortalecimento das
religiosidades de matriz africana. É assim que Mãe Carmen será para sempre
lembrada", afirmou.
O prefeito de Salvador, Bruno Reis (União Brasil), também
manifestou pesar pela morte da ialorixá e exaltou o seu legado de preservação
da ancestralidade e de cuidado com as pessoas.
"Mãe Carmen seguirá como luz a guiar caminhos e a
fortalecer nossa cidade, seguindo os passos de sua mãe. Meus sentimentos à
família, aos filhos e filhas de santo e a toda a comunidade do Gantois."
Mãe Carmen deixa duas filhas, três netos e quatro bisnetos.


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