sexta-feira, 19 de dezembro de 2025

NO SENADO, PAPAI NOEL CHEGOU MAIS CEDO PARA OS GOLPISTAS

Bernardo Mello Franco, O Globo

Governo lava as mãos, e bolsonaristas aprovam redução de penas de capitão e generais

Papai Noel chegou mais cedo para os golpistas. A poucos dias do Natal, Jair Bolsonaro e seus comparsas foram presenteados com uma generosa redução de penas.

O Senado aprovou o famigerado PL da Dosimetria. O projeto pode reduzir em até dois terços o tempo que o ex-presidente teria que passar na cadeia. Também serão beneficiados militares e civis que participaram dos ataques à democracia.

Os aliados do capitão nem tentaram disfarçar o casuísmo. Uma emenda apresentada por Sergio Moro deixou claro que o texto foi redigido sob medida para favorecer os condenados do 8 de Janeiro. O ex-ministro, que se vendia como paladino da Justiça, agora usa o mandato para resgatar criminosos do xadrez.

Os bolsonaristas aproveitaram a votação para tripudiar do Supremo Tribunal Federal. O senador Magno Malta chamou os ministros da Corte de “canalhas” e “abutres”. O relator do processo, Alexandre de Moraes, foi alvo de ofensas mais grosseiras.

Sem votos para barrar a redução de penas, o Planalto lavou as mãos. O petista Jaques Wagner trocou a rendição por um aumento de tributos que reforçará os cofres públicos em R$ 22 bilhões no ano eleitoral.

Após a repercussão negativa, foi criticado pela ministra Gleisi Hoffmann e desautorizado pelo presidente Lula, que tentou se desvincular da barganha. Só faltou culpar a oposição pela manobra do líder do governo.

O PSB, do vice-presidente Geraldo Alckmin, também protagonizou um vexame. Os quatro senadores do partido votaram a favor do perdão aos golpistas. Preso, cassado e exilado pela ditadura, Miguel Arraes deve ter se revirado no além.

A votação desta quarta expôs o desprezo do Congresso pela História e pelo Estado de Direito. Na terça, o Supremo concluiu o julgamento dos últimos cinco réus dos processos pela tentativa de golpe. Eles foram condenados por conspirar contra a democracia, tumultuar a realização do segundo turno e planejar os assassinatos de Lula, Alckmin e Moraes.

O general Mário Fernandes, que confessou a autoria do projeto homicida, pegou 26 anos e 6 meses de prisão. No dia seguinte, foi um dos agraciados pelo pacote natalino do Senado. Ho, ho, ho.

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