domingo, 23 de dezembro de 2007

A GREVE, O GOVERNO E O BISPO CAPPIO

Após 24 dias em greve de fome, o Frei d. Luiz Flávio Cappio(foto), bispo de Barra (BA), encerrou sua a greve e se diz decepcionado com a decisão do STF, em particular do ministro Carlos Alberto Direito que autorizou a retomada das obras de transposição do Rio São Francisco. O bispo de Barra disse: “a decisão do Supremo foi subserviente”. Afirmou também que não há possibilidades de uma terceira greve de fome. D. Luiz Flávio Cappio se diz preocupado com o Estado de Direito e perguntou: “não estamos em uma ditadura ?”. Para d. Flávio Cappio, quando o governo tem numa mão o Legislativo e na outra, o Judiciário, isso coloca em xeque a questão do Estado de Direito.

Em 2005, quando d. Flávio Cappio fez a primeira greve de fome o presidente Lula conseguiu por meios de seus interlocutores sanar o impasse e prometeu fazer uma reavaliação, trocados em miúdos, entender o ponto de vista do bispo mas sem parar o projeto, o enviado a missão nada fácil foi Jacques Wagner, então ministro das Ralações Institucionais, hoje, governador da Bahia. Agora, na segunda greve, o governo enviou dois emissários, o Secretário-Geral da Presidência, Luiz Dulci e o chefe de gabinete Gilberto Carvalho, mas não foi à Barra ou a Sobradinho, foram a CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil) para tentar fazer d. Luiz Flávio Cappio desistir da greve de fome e não criar mais embaraço no projeto de transposição do Rio São Francisco e nada mais aconselhável do que procurar a CNBB, para exigir do bispo o fim da greve.

Ao procurar a CNBB por intermédio de seus interlocutores, o governo Lula foi surpreendido, a CNBB disse que estava de total acordo a greve de fome do bispo e que não haveria interferência da Igreja Católica pelo contrário, mobilizou todos os fiéis para que jejuassem em apoio a greve de d. Luiz Flávio. A igreja católica demonstrou que continua unida e não que não estar mais apoiando o governo Lula, pelo menos em projetos desse tipo que não irá resolver o problema da seca, mas beneficiar os empresários do agronegócio. Os movimentos sociais da igreja católica deram as costas para o governo federal e para dar continuidade ao projeto de transposição das águas do Rio São Francisco, o Judiciário deu uma força ao governo que estufou o peito e mostrou quem manda no governo, ele mesmo, o presidente Lula que iniciou sua carreira política amparado pelos movimentos sociais e da igreja católica que até ontem endossava os projetos do governo. Hoje, se pode dizer que estes movimentos sociais da igreja católica não comungam mais dos mesmo ideais do governo que prometeu a reforma agrária e tantas outras reformas.

A repercussão sobre a decisão do STF para a continuação das obras no Rio São Francisco foi tanta que, em Brasília, a atriz Letícia Sabatella, presidente da ONG Humanos Direitos, chorou após saber da decisão do ministro Carlos Alberto Direito. A atriz saiu em defesa do bispo num artigo no jornal O Globo pelo ato que classificou como “uma profunda nobreza”. Letícia Sabatella foi criticada em outro artigo, escrito pelo ex-ministro da Integração Nacional e principal defensor do projeto de transposição das águas do São Francisco, o deputado federal, Ciro Gomes (PSB) que diz afirma que o povo será beneficiado, mas para a atriz, quem ganha é o capital. O deputado Ciro Gomes também teceu críticas ao bispo, dizendo que: “por mais nobres que sejam seus motivos – e são, no mínimo, equivocados – o bispo Cappio não tem direito de fazer a Nação de refém de sua ameaça de suicídio. Qualquer vida é preciosa demais para ser usada como termo autoritário, personalista e messiânico de constrangimentos à República”.

Como sempre, o deputado falastrão Ciro Gomes sai em defesa do governo Lula, galgando ser o escolhido do Planalto em 2010. Usa a transposição das águas do Rio São Francisco como panfletagem para sua carreira política e em especial a possível candidatura em 2010, jamais esteve preocupado no bem-estar dos ribeirinhos e os que serão afetados com esse projeto que representa uma afronta ao povo do sertão semi-árido porque vai ajudar os grandes empresários do agronegócio e não resolverá o problema da seca no nordeste. O problema com a seca na região do nordeste é mais antiga do que se pensa, D. Pedro I mandou construir o primeiro açude brasileiro em Quixadá (CE) para acabar com a seca por lá, já se passaram muitos anos e a seca persiste, o açude continua lá, o mais antigo do país. O deputado Ciro Gomes usa essa bandeira como a plataforma para sua próxima campanha, porque nunca esteve preocupado com as famílias da região ribeirinha. Ao contrário do deputado Ciro Gomes, o bispo d. Flávio Cappio não é um panfletário e não tem pretensões políticas, apenas ver que este projeto é um desaforo e que não resultará num bem maior de beneficiados pela transposição das águas do Velho Chico.
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