quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

MORRE ARMANDO FALCÃO

O censor saiu de cena. O implacável ministro da Justiça do governo Geisel (1974-1979), o cearense Armando Falcão, 90 anos, morreu ontem (10), de broncopneumonia, em sua casa no Rio. A família só divulgou a notícia da morte após o enterro, que ocorreu na tarde desta quinta-feira, no cemitério São João Batista, em Botafogo.
Natural de Fortaleza, ele formou-se em Direito, o que deu impulso à carreira política. Com um currículo difícil de ser igualado, o então ministro conseguiu censurar cerca de 400 livros, 117 peças teatrais, 47 filmes e 840 letras de músicas durante a sua gestão.
Falcão ainda criou um mecanismo que impedia os candidatos de falarem no rádio e na televisão durante as campanhas eleitorais: a Lei Falcão. Essa legislação ficou conhecida como “cinema mudo” e vigorou entre 1976 e 1985. Era uma resposta da ditadura militar ao crescimento da oposição.
Pelas novas regras, a propaganda eleitoral dos partidos deveria divulgar apenas o partido, o nome e o número do candidato. Na TV, era permitida como imagem, apenas a divulgação de um retrato do candidato. Ninguém poderia falar no rádio ou na TV. Na época, elegiam-se senadores, deputados e prefeitos. Governadores e prefeitos das Capitais eram nomeados pelo regime militar.
Nem mesmo o balé Bolshoi escapou de seu crivo. Em entrevistas recentes, o ex-ministro chegou a dizer que a única coisa da qual se arrependia era o veto a uma apresentação da companhia russa. O show seria transmitido pela Rede Globo em 1977. Atendendo pedido do Serviço Nacional de Informações (SNI), Falcão censurou a exibição devido à proximidade dos festejos de 60 anos da Revolução Russa.
Em 1950, candidatou-se pela primeira vez a um cargo eletivo. Concorrendo pelo PSD, conquistou uma cadeira na Câmara pelo Ceará. Falcão também foi líder da oposição do governo Getúlio Vargas e, do governo, no mandato de Juscelino Kubitschek.
No governo JK, também ocupou os ministérios da Justiça, Relações Exteriores (interino) e Saúde. Entre 1963 e 1964, ele percorreu o país articulando o movimento que derrubaria o presidente João Goulart. O seu reconhecimento pelos militares viria no governo Geisel, que o escolheu como Ministro da Justiça.
O censor foi censurado pela web. Armando Falcão parece ter provado do próprio veneno; procurei na internet imagens para ilustrar essa reportagem, quase não encontro. É escasso. Procurei no maior banco de imagens, o Google. Nele encontrei apenas umas quatro fotos e em péssimo estado. A melhor foi essa.
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Um comentário:

  1. Normal, Chocolate, não ter fotos do Armando Falcão nos bancos de dados do Google, ele, apesar do histórico político controvertido à direita, era uma pessoa bem reclusa, tanto é assim que ao sair do mundo político dele pouco se ouviu falar.
    Foi um político de perfil apreciado pelos militares golpistas (ou revolucionários, como eles gostam de se autointitular e comemorar a data nos quartéis), pois apreciava e incentivava a cultura tupiniquim, principalmente a nordestina, vide alguns LP's de Luiz Gonzaga o citando, da qual era um expert, e tinha uma queda pelas frases de efeito.
    "Brasil, ame-o ou deixe-o" e "Nada a declarar" são algumas das frases atribuídas ao cearense radicado no Rio de Janeiro, Armando Falcão.
    Que Deus ou o diabo tenha piedade de sua alma.

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