Eleita para o Senado com mais de 8 milhões de votos, Marta
Suplicy (PT-SP) quer ser o "braço direito" da presidente eleita,
Dilma Rousseff, na Casa.
A ex-prefeita não esconde que deseja ser protagonista entre
os 81 senadores e atuar na "interlocução" com aliados, principalmente
o PMDB.
Em balanço das eleições, Marta disse que o PT errou ao
avaliar que também poderia eleger Netinho de Paula (PC do B) ao Senado.
Ela ainda prometeu defender a criminalização da homofobia. A
seguir, os principais trechos da entrevista.
Folha - Como a sra. avalia a eleição de Dilma Rousseff para
a Presidência do Brasil?
Marta Suplicy - A escolha da Dilma foi um gol do presidente
Lula. Não só por ela ser mulher, mas também por ser qualificada e parceira de
todos os grandes projetos deste governo. Quem tem o privilégio de conviver com
a Dilma sabe que se faz uma avaliação muito aquém do que ela é como pessoa e do
que tem de competência.
Acredita que terá espaço no governo Dilma?
Olha, eu acho que o Senado é um espaço onde posso ter um
protagonismo muito forte para a presidente. Eu quero ser o braço direito. E se
isso me for permitido, e eu tiver a capacidade de exercer esse espaço, estarei
mais do que satisfeita. Meu mandato é de oito anos. Não tenho nenhuma pressa
para exercer outro cargo.
Que balanço faz da campanha do PT em São Paulo?
Acredito que o PT fez uma avaliação errada e colocou em
risco a cadeira do Senado. A avaliação foi que poderíamos ter dois senadores do
mesmo campo [ela e Netinho de Paula, do PC do B], esquecendo que havia um
candidato ao governo com 50% de intenção e que o Estado tem tradição de eleger
um senador de cada campo político.
A sra. acha que tinha mais chances de chegar ao governo
paulista que o senador Aloizio Mercadante (PT-SP)?
O que teria sido nós nunca vamos saber. Ele [Mercadante] se
dedicou muito à campanha. São Paulo merecia uma administração mais dinâmica e
ousada do que o café com leite que a gente tem com os tucanos. O Aloizio
poderia ter sido um diferencial. Eu realmente fiquei triste que ele não ganhou
a eleição. Falo isso de coração, viu?
Ficou constrangida por subir no palanque com Netinho, que
tem histórico de agressão contra mulheres?
Eu avaliei que cada candidatura era uma candidatura e que
não caberia a mim julgar essa questão específica, mas ao eleitor. E ele julgou.
Há no PT uma avaliação de que a sra. abre muito espaço aos
seus namorados em decisões políticas...
Isso tem muito a ver com machismo. Se fosse um homem que
compartilhasse a vida política com a mulher, ela seria uma enxerida, porque é
mulher. E se [uma mulher] compartilha com um homem, ela é tonta e ele manda.
Não tem escapatória.
Como a sra. vê a relação do PT com o PMDB no Senado?
Nós temos que ser parceiros. Espero ser uma interlocutora
importante com eles pela governabilidade.
O PMDB é um parceiro confiável no Congresso?
Terá que ser. E se tiver interlocução confiável, será.
A sra. defende a reeleição de José Sarney na Casa?
Esta decisão é do PMDB e nós vamos acatar e trabalhar
juntos. Nossa intenção é criar o mínimo possível de dificuldades e o máximo de
força para o governo.
Pretende defender a criminalização da homofobia?
Sim. Estamos vivendo um retrocesso. Quando apresentei meu
projeto de união civil, há 15 anos, a Argentina era homofóbica. Hoje ela tem
uma lei avançada e nós, espancamento na Paulista.
A sra. avalia que a nomeação de Mercadante para o Ministério
da Ciência e Tecnologia é suficiente para cacifá-lo à Prefeitura de São Paulo?
O Mercadante tem uma história de vida e de votação que o
qualifica para disputar qualquer cargo.
Está disposta a disputar a prefeitura de novo?
Não fecho nenhuma porta, porque política é conjuntura. Mas
meu foco é o Senado. Não adianta ficar dizendo dois anos antes que será o
Mercadante, eu ou outra pessoa. Mas me sinto muito confortável porque tenho um
trabalho feito, que vai estar sempre a favor do partido.
A sra. voltará a conviver no Senado com seu ex-marido,
Eduardo Suplicy (PT-SP). Há chance de reatar?
[risos] Olha... nenhuma. Nem a mais leve hipótese.
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