quarta-feira, 6 de junho de 2012

MARTA

Por Eliane Cantanhêde colunista da Folha de S. Paulo

Linda, rica, inteligente, cheia de sobrenomes próprios e adquiridos, Marta Suplicy emprestou por 30 anos esse pacote paulistano quatrocentão para ajudar a edificar o PT e a ascensão de Lula.

Mas, se Marta sempre gostou de Lula e foi fiel a ele, não se pode dizer que a recíproca seja totalmente verdadeira. Lula nunca morreu de amores por esta mulher tão poderosa, cheia de si, que empurrou para o Turismo no seu governo.

Essa diferença explodiu na eleição para a Prefeitura de São Paulo. Com 29% a 30% em setembro, Marta liderava todas as pesquisas, em todos os segmentos, mas Lula estava inebriado com a vitória de sua criatura Dilma e decidiu que era hora do "novo" também na principal capital do país.

Marta tinha um trabalho bem avaliado na periferia quando prefeita e acabara de se eleger para o Senado. Haddad nunca tinha sido candidato a nada, andava enrolado com os erros do Enem e era capaz, como foi, de confundir Itaim Bibi com Itaim Paulista. Estava com 2% (hoje, tem 3%).

Lula não quis saber de conversa. Tirou a "companheira Marta" da frente, impôs Haddad goela abaixo da direção do PT, cooptou todo o grupo "martista". O rei sou eu.

Ok. Lula tem instinto e Haddad é, de fato, um bom produto eleitoral, mas dá para Marta ficar feliz com o processo, com o jeito, com a imposição? Ponha-se no lugar dela. Não dá.

Criado o problema, os líderes petistas voltaram-se contra Marta. Avaliam que, se ela vier com Haddad, ajuda muito; se não, não atrapalha tanto quanto pensa. Até porque, com ou sem Marta, o PT tem o seu capital eleitoral consolidado e Lula cobre, de sobra, a força dela na periferia.

Conclusão: o PT vai usar e abusar da gestão Marta como vitrine, mas sem Marta. E ainda tripudia: ela não tem para onde correr. Primeiro, porque é inimiga quase pessoal de Serra e Kassab e, segundo, porque todo mundo que saiu do PT se deu mal.

Lula isolou Marta Suplicy.

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