A pesquisa sobre a sucessão presidencial de 2014 divulgada
domingo não antevê o futuro, mas mede o ponto de partida dos presidenciáveis. O
Ibope mostra que, a 22 meses da sucessão, ninguém tem posição tão avançada no
grid de largada quanto a presidente Dilma Rousseff (PT). Nem mesmo Lula,
tampouco Aécio Neves (PSDB), muito menos Eduardo Campos (PSB). Só um grave
revés econômico ou judicial lhe tiraria a "pole position".
Com 26% de menções espontâneas ao seu nome para 2014, Dilma
não é mais "Vilma" nem "a mulher de Lula", como ficou
caricaturada durante a campanha eleitoral de 2010. Seu poder emana cada vez
menos do padrinho político. Ganha vida e, mais importante, vontade próprias.
Nesses dois anos, a presidente manteve quase todos os lulistas que herdou e, a
eles, somou seus próprios fãs.
"Dilma foi eleita pelos simpatizantes de Lula, mas no
primeiro ano de seu mandato conquistou eleitores que votaram em (José) Serra
(PSDB) e passou a ter uma avaliação cada vez mais positiva", explica
Marcia Cavallari, CEO do Ibope Inteligência. Ela baseia sua explicação em um
conjunto de pesquisas do Ibope.
Entre julho de 2011 e setembro passado, o saldo positivo de
Dilma junto aos brasileiros cresceu de 36 para 55 pontos porcentuais. Nesses 14
meses, mais gente passou a achar seu governo bom ou ótimo (de 48% para 62%) e
escassearam os que avaliam sua gestão como ruim ou péssima (de 12% para 7%).
Os simpatizantes de Dilma são mais heterogêneos do que os
lulistas. A popularidade de Dilma cresceu mais no Sul, uma região com níveis de
renda e escolaridade acima da média do Brasil. O saldo de aprovação de Dilma no
conjunto de gaúchos, catarinenses e paranaenses passou a equivaler ao que ela
tem entre os nordestinos: 62 e 63 pontos, respectivamente.
A intenção de voto em Dilma ecoa sua popularidade. Tanto no
Sul quanto no Sudeste, Dilma bate Lula por 25% a 17% na pesquisa espontânea.
Entre os eleitores das classes A e B sua vantagem sobre o padrinho político é
50% maior do que nas C, D e E. Ela tem 10 pontos a mais do que Lula no
eleitorado com diploma de faculdade, mas empata com ele entre os menos
instruídos.
De onde vêm a simpatia pela presidente na elite econômica?
Principalmente da confiança do eleitor-consumidor. Mas não só.
Nos últimos meses, a aprovação da presidente começou a
empinar e a se descolar da confiança do consumidor medida pelo Ibope/CNI. As
expectativas econômicas seguem positivas, mas os ganhos recentes de
popularidade de Dilma parecem ter mais explicações.
A demissão de Rosemary Noronha, a assessora da Presidência
indicada pelo antecessor, foi um bom exemplo. Antes que sua popularidade fique
chamuscada, Dilma troca os fusíveis queimados do poder. Demite até amigos de
Lula pegos com a boca na botija, cada vez com menos hesitação. Não que ela não
faça o jogo do poder. Faz, e melhor do que os "pundits" brasilienses
previam.
Na crise ministerial do primeiro ano de mandato, Dilma
aprendeu que quando deflagradas logo, suas "faxinas" se sobressaem
aos maus feitos, pelo menos nos olhos da opinião pública. Se varre uma parte
para baixo do tapete, pouca gente vê. E dos que veem, a maioria já é de
eleitores que votam na oposição.
É um problema para Aécio e Eduardo Campos. Consumindo o que
quer, com renda estável e sem medo de perder o emprego, o eleitorado emergente tende
a pesar mais no prato da permanência do que no da mudança em 2014. Com as
demissões sumárias de servidores públicos, Dilma não mata a corrupção mas passa
a imagem de que não é conivente com ela, agradando eleitores desiludidos com
Lula. Confina os rivais a um gueto eleitoral.
Aécio só se destaca entre quem ganha mais de 10 salários
mínimos e no Sudeste; Marina Silva (sem partido) só faz diferença nas capitais
e no Norte/Centro-Oeste; e Eduardo Campos tem mais espaço na mídia do que na
cabeça do eleitor - embora mostre potencial entre os mais pobres e no Nordeste.
A confiabilidade de uma pesquisa de intenção de voto aumenta
à medida que diminui o tempo que a separa da eleição. A um ano do pleito, a
chance de acertar quem será eleito é a mesma de um jogador de cara ou coroa:
meio a meio. Na véspera de o eleitor ir à urna, quando ele já tiver pensado no
assunto antes de ser abordado pelo pesquisador, a confiabilidade das sondagens
sobe para mais de 95%. A regra vale tanto no Brasil quanto nos EUA.
Por ora, o grau de incerteza da pesquisa é enorme. Mas ela
mostra que enquanto os adversários precisam suar para ganhar simpatizantes, a
Dilma basta não perder os que já tem.
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