Fernando Gallo, do O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - A Comissão Executiva Nacional do PT divulgou
nesta quarta-feira, 14, nota com a posição oficial do partido sobre o
julgamento do mensalão na qual faz diversos ataques ao Supremo Tribunal
Federal. A direção petista afirma no documento que os ministros da Corte
fizeram política ao julgar o caso. Também diz que a Corte "desrespeitou
garantias constitucionais" para "tentar criminalizar o PT".
Boa parte do conteúdo da nota divulgada ontem já vinha sendo
apresentada em declarações de dirigentes, principalmente via presidente do PT,
Rui Falcão. O documento de ontem acabou por consolidar as manifestações.
Na nota, o partido acusou o STF de dar "estatuto legal
a uma teoria nascida na Alemanha nazista, em 1939, atualizada em 1963 em plena
Guerra Fria e considerada superada por diversos juristas" para condenar o
ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. Foi uma referência à teoria do domínio
de fato, segundo a qual quem ocupa posição de comando pode ser responsabilizado
por um crime mesmo não o tendo executado.
"Trata-se de uma interpretação da lei moldada
unicamente para atender a conveniência de condenar pessoas específicas e,
indiretamente, atingir o partido a que estão vinculadas", afirma a nota da
direção nacional do PT.
O partido sustenta que o Supremo "instaurou um clima de
insegurança jurídica" no País e diz que as decisões do tribunal
"prenunciam o fim do garantismo, o rebaixamento do direito de defesa, do
avanço da noção de presunção de culpa em vez de inocência".
Também fustiga os ministros da Corte, acusando-os de agirem
sob "intensa pressão da mídia conservadora". Para a Executiva
petista, os magistrados "confirmaram condenações anunciadas, anteciparam
votos à imprensa, pronunciaram-se fora dos autos e, por fim, imiscuíram-se em
áreas reservadas ao Legislativo e ao Executivo, ferindo assim a independência
entre os poderes".
A nota ataca o STF por dar "valor de prova a
indícios" e por não fazer um julgamento "isento". "Houve
flexibilização do uso de provas, transferência de ônus da prova a réus,
presunções, ilações, deduções, inferências e a transferência de indícios em
provas."
O texto divulgado ontem sustenta também que a
"partidarização do Judiciário" ficou "evidente". "O
STF fez política ao definir o calendário convenientemente coincidente com as
eleições. Fez política ao recusar o desmembramento da ação e ao escolher a
teoria do domínio do fato para compensar a escassez de provas".
Ao contrário do defendido anteriormente por parte dos
integrantes da sigla, nenhum desagravo explícito foi feito aos filiados
condenados no caso - além de Dirceu, José Genoino, Delúbio Soares e João Paulo
Cunha.
Por entender que o Supremo negou aos então réus "a
plenitude do direito de defesa", ao impedi-los de recorrer a instância diferente,
o PT avalia ser legítimo que eles "recorram a todos os meios jurídicos
para se defenderem". A defesa dos condenados petistas avalia a
possibilidade de recorrer a cortes internacionais justamente alegando a
impossibilidade de recurso no sistema jurídico brasileiro, primeira questão de
ordem levantada logo no início do julgamento.
Lula. Falcão afirmou que mostrou o texto da nota Dirceu e a
Genoino e disse que ambos avaliaram que a nota estava "de bom
tamanho". O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também tomou
conhecimento do documento.
Indagado se via algo de positivo em todo o processo, Falcão
afirmou que o julgamento mostrou que "as instituições estão funcionando
legalmente" e que o processo pôde ser acompanhado na TV por toda a
sociedade brasileira.
Embora conclame a militância a "mobilizar-se em defesa
do PT e de nossas bandeiras", na direção do partido o texto é tido como o
ponto final no caso e a questão é considerada "página virada". O PT
não deve se manifestar mais formalmente sobre o caso nem levará a cabo nenhuma
outra contestação do julgamento.
O secretário nacional de Comunicação e membro da Executiva,
deputado André Vargas (PT-PR), sustentou que o PT não se sente julgado como
instituição. "Houve alguns equívocos, mas vamos seguir em frente."
Clique aqui e leia a íntegra do manifesto em defesa dos réus do mensalão.
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