FORTALEZA É UMA FESTA - Cid Gomes e sua mulher: os gastos
com shows somam 86 milhões de reais
Reportagem de Kalleo Coura, publicada em edição impressa de
VEJA
Chamado de Maria Antonieta de Sobral, o governador do Ceará
mostra que, ao contrário dos Estados vizinhos, no seu não há miséria
Com a má fase da economia brasileira, o choramingo habitual
dos estados por falta de verbas aumentou tanto que a última reunião dos
secretários estaduais de Fazenda “parecia a pororoca do Rio Amazonas”, nas
palavras do representante do Paraná, Luiz Carlos Hauly (PSDB).
O aperto é tamanho que, para muitos governantes, dar calote
em fornecedores ou ter o fornecimento de luz cortado nas repartições públicas
por falta de pagamento deixou de ser constrangimento para virar prática
incontornável.
Mas em pelo menos um estado brasileiro esse chororô ainda
não chegou. No Ceará do governador Cid Gomes (PSB) a vida é só alegria e
abundância — ao menos nos seus domínios. Chamado pela oposição de Maria
Antonieta de Sobral, o governador é conhecido por seu apreço pelas boas coisas
da vida.
No começo deste mês, seu governo assinou um contrato de 3,4
milhões de reais com uma empresa encarregada de servir e decorar os eventos do
Palácio da Abolição e da residência oficial do governador. No cardápio
combinado, constavam pratos à base de caviar, lagosta e escargot, conforme
revelou da tribuna da Assembleia Legislativa o deputado Heitor Férrer, do PDT.
Pego com a faca e o molusco na mão, Cid Gomes ficou
irritado. Disse que nunca comeu “esse negócio de caviar” e que, diante da grita
geral, iria ceder à “demagogia” e “mandar retirar todas as coisas exóticas” do
cardápio. “Tudo que tiver nome francês, inglês, russo vai sair. Vai ficar só
coisa com nome em português: arroz, feijão, carne, frango e peixe” (tanto desprendimento,
porém, não foi suficiente para baixar o preço do contrato — o valor permanece
inalterado).
Não foi a primeira vez que Cid Gomes foi acusado de excesso
de generosidade com dinheiro alheio. Em 2008, o governador passou dez dias na
Europa, acompanhado da mulher e da sogra, em um jatinho fretado que custou
388.500 reais aos cofres públicos.
De 2007 a janeiro de 2013, o estado do Ceará gastou 86
milhões de reais para contratar bandas e cantores para animar eventos. Ivete
Sangalo, por exemplo, levou 650.000 reais para cantar em Sobral na inauguração
de um hospital — cuja fachada ruiu um mês mais tarde. O cachê recorde foi para
o tenor espanhol Plácido Domingo, que recebeu 3 milhões de reais para se
apresentar em Fortaleza.
O projeto mais grandioso do governador, no entanto, a
construção do terceiro maior aquário do mundo, orçada em 358 milhões de reais,
está sendo questionado pelo Ministério Público. O MP suspeita de ilegalidade na
contratação da empresa encarregada da obra. Mas o governo já prometeu brigar.
Cid quer circo, e não gosta de miséria.
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