Por Ranier Bragon, de Brasília
Maior beneficiária do
abalo que as manifestações de rua causaram no mundo político, a ex-senadora
Marina Silva, 55, diz que os protestos que recorrem à violência
"extrapolam" os limites da desobediência civil aceitável.
Tendo saltado de 16% para 26% das intenções de voto, ela diz
que foi um "erro em todos os aspectos" a presença de um membro da
Rede na depredação do Itamaraty. "No Estado Democrático de Direito existem
regras."
Ela também diz acreditar que o apoio popular ao nome de
Joaquim Barbosa à Presidência representa mais um desejo de justiça que uma real
aspiração de que o relator do mensalão comande o país: "Desejos por
messias não são bons em hipótese alguma".
Folha - A sra. dizer que não é candidata não contradiz seu
discurso de autenticidade?
Marina Silva - Mas eu não estou dizendo que não sou. Digo
que não estou no lugar de candidata, que a candidatura é uma possibilidade.
Caso a Rede não seja criada a tempo, o nome Marina Silva
estará na urna em 2014?
Não quero falar por hipótese. Estamos focados na Rede.
Vocês estudam impor limites a doações, têm pouco tempo na TV
e palanques fracos nos Estados. Campanha desse jeito não é muito
"sonhatismo"?
Não sei o que você chama de "sonhatismo". Gostaria
de saber o que seria muito realismo? É aceitar o que está aí como uma
fatalidade e que não existe saída?
A sra. vê Joaquim Barbosa como um candidato viável?
O que a sociedade está sinalizando com certeza é que tem um
desejo imenso de que a justiça seja feita, que a impunidade deixe de ser uma
realidade no nosso país.
Não como candidato salvador da pátria, um messias...
Desejos por messias, eles não são bons em hipótese alguma,
não existem salvadores da pátria, existem homens e mulheres que se dispõem a
construir a pátria.
A sra. apoia atos que resultam em depredações e confrontos?
Eu tive um momento muito importante na minha vida na década
de 80 quando fizemos os movimentos contra os desmatamentos na Amazônia. Havia
um grupo que achava que éramos tão indefesos que tínhamos de enfrentar os
jagunços na mesma moeda. Na época eu vi serem assassinados [os ambientalistas]
Wilson Pinheiro, Chico Mendes e João Eduardo. Minha opção sempre foi de fazer
movimentos pacíficos. Atos de desobediência civil podem ser feitos de forma
pacífica, sem desrespeitar direitos fundamentais--por exemplo, agressão às
pessoas, ao patrimônio.
Como as autoridades devem lidar com essas situações?
No Estado Democrático de Direito existem regras a ser
observadas. O Estado está ali para assegurar inclusive os direitos dos
manifestantes de se manifestarem, mas também para proteger o patrimônio das
pessoas e o patrimônio público.
A sra. acha que aquele integrante da Executiva da Rede errou
no ato do Itamaraty?
Ele próprio reconhece que errou. Sei que ele errou em todos
os aspectos, até porque no meu entendimento não é com uma atitude violenta que
se vai resolver os problemas.
Qual é a impressão que a sra. tem de movimentos como a Mídia
Ninja e Fora do Eixo?
Eles estão vivendo agora uma série de críticas. Não tive
tempo de aprofundar essas críticas. O que merece reparação deve ser reparado.
Se tem que algo a ser investigado, tem de ser investigado.
Petistas dizem que a sra. perderá apoio por causa das suas
posições conservadoras.
Se você fizer uma pesquisa da forma como a ministra Dilma e
o governador Serra se portaram nas eleições do segundo turno de 2010, acho que
dificilmente conseguiríamos algo mais conservador do que aquele tipo de
postura. A diferença é que eu procuro dizer exatamente aquilo que penso.
A sra. diz que manteve nos últimos anos uma agenda
socioambiental. Acha que até a eleição é possível complementar esse perfil?
Mas quem foi que disse que defender meio ambiente não é
tratar de economia, que falar de desenvolvimento sustentável não é falar de
infraestrutura, de educação, de ciência, de tecnologia, de agricultura?
A aparência não é essa: o Datafolha mostra que a sra. é
vista pela população como uma das menos preparadas para administrar a economia.
A população tem direito de saber mais das pessoas que ela
não conhece. Imagino que o sociólogo FHC e o operário Lula também tenham
suscitado algumas dúvidas.
Ao se aproximar de André Lara Resende, a sra. não teme ser
associada ao governo FHC?
Se Lula fosse se preocupar em ter ouvido uma série de
pessoas que já deram contribuição em vários governos, ele não seria hoje o grande
admirador do Delfim [Netto] que ele é.
Autonomia do BC para a senhora é "clausula
pétrea"?
Autonomia do BC é necessária, fundamental. Eu não acho que
devemos é entrar no caminho da institucionalização dessa autonomia.
Mexeria na Previdência?
O Brasil precisa encarar as grandes reformas: política, da
Previdência, tributária.
Trabalhista?
É algo a ser pensado.
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