Por Jimmy Azevedo, Jornal do Comércio
Destoando do discurso de lideranças petistas, intelectuais
de esquerda e juristas, o ex-governador do Rio Grande do Sul Olívio Dutra não
acredita que houve cunho político na condenação e na prisão dos
correligionários José Genoino, José Dirceu e Delúbio Soares, detidos, na semana
passada, pelo escândalo do mensalão durante o primeiro governo de Luiz Inácio
Lula da Silva (PT). “Funcionou o que deveria funcionar. O STF (Supremo Tribunal
Federal) julgou e a Justiça determinou a prisão, cumpra-se a lei”, analisa o
ex-presidente estadual e um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT).
No entendimento de Olívio Dutra, o desfecho da Ação Penal
470, conhecida popularmente como mensalão, foi uma resposta aos processos de
corrupção que, historicamente, permeiam a política nacional, independentemente
de partidos.
Sobre a decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal,
Joaquim Barbosa, de ordenar a prisão dos réus no processo sobre a compra de
parlamentares por dirigentes petistas para a aprovação de projetos do governo
Lula, Olívio disse que cada instituição tem seu funcionamento. “Até pode ser
questionado, mas as instituições têm seus funcionamentos. O que não se pode
admitir é o toma-lá-dá-cá nas práticas dos mensalões de todos os partidos, nas
quais figuras do PT participaram”, avalia o petista histórico. O ex-governador
gaúcho reitera que tem respeito à história de lutas de José Dirceu e Genoino,
mas que em nada o passado de combate à ditadura militar abona qualquer tipo de
conduta ilícita. “Há personalidades que fazem política por cima das instancias
partidárias e seguem seus próprios atalhos. Respeito a biografia passada dessas
figuras que lutaram contra a ditadura, mas (a corrupção) é uma conduta que não
pode se ver como correta”, critica.
Ironicamente, Olívio Dutra, então ministro das Cidades de
Lula, foi isolado por políticos fortes no governo, como o ex-ministro da Casa
Civil José Dirceu, ainda antes do escândalo do mensalão vir à tona.
Em julho de 2005, Olívio é retirado da pasta para dar lugar
a Márcio Fortes, do Partido Progressista (PP), sigla também envolvida no
escândalo de corrupção. Olívio diz que o PT está acima de indivíduos, e
acredita que se fez justiça no caso de corrupção.
“Não deveria ser diferente (sobre as condenações e prisões).
Um partido como o PT não pode ser jogado na vala comum com atitudes como esta.
Com todo o respeito que essas figuras têm, mas não é o passado que está em
jogo, é o presente, e eles se conduziram mal, envolveram o partido. O sujeito
coletivo do PT não pode ser reduzido em virtude dessas condutas. O PT surgiu
para transformar a política de baixo para cima. Eu não os considero presos
políticos, foram julgados e agora estão cumprindo pena por condutas políticas”,
dispara o líder petista.
Distante da vida política, mas a par da vida partidária do
PT estadual e nacional, o ex-governador gaúcho Olívio Dutra dedica os dias à
família e aos estudos de Latim na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Formado em Letras pela Ufrgs, Olívio pediu reingresso para aproveitar cadeiras
não cursadas. Além disso, ocupa o tempo em livrarias da cidade, bem como em
espetáculos culturais, gosto que fez com que ele se integrasse à Associação
Amigos do Theatro São Pedro.
Ovacionado em eventos públicos pela militância petista e
integrantes de movimentos sociais, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem-Terra (MST), Olívio faz uma análise da conjuntura atual e os cenários para
que o PT consiga reeleger o projeto de Tarso Genro.
Para o Galo Missioneiro, apelido dado por admiradores, o
distanciamento de forças políticas, tais como o PDT e o PSB, do governo Tarso
Genro é algo natural em vésperas de eleição eleitoral, ainda mais pela
conjuntura. O PSB, por exemplo, terá provavelmente o governador pernambucano
Eduardo Campos como candidato à presidência da República na disputa contra a
presidente Dilma Rousseff (PT).
No Estado, os socialistas não descartam a possibilidade,
inclusive, de uma aliança com o Partido Progressista (ex-Arena) na candidatura
da senadora Ana Amélia Lemos ao Palácio Piratini, ou com o PMDB, que poderá
lançar o ex-prefeito de Caxias do Sul José Ivo Sartori.
“A candidatura própria do PDT é uma hipótese ainda. O fato
de os partidos tomarem outros rumos antes do pleito não é novidade. As forças
se estremecem quando se aproxima a eleição. Mas isso não é o ideal no campo
democrático popular”, analisa Olívio.
O ex-governador entende, no entanto, que nunca se governa em
situação tranquila, pois há interesses pessoais e partidários distintos dentro
do tabuleiro político. “Os governos (Dilma e Tarso) fazem um grande esforço
para o funcionamento da máquina pública em prol da sociedade, não como projeto
pessoal, para atender à maioria do povo. Nunca se terá condições ideais, claro,
pois há uma pressão enorme dos poderosos.”
Quando esteve no Palácio Piratini (1999-2002), seu governo
foi alvo de uma CPI sobre uma suposta relação com o jogo do bicho. O Ministério
Público não aceitou as acusações e decidiu não denunciar o petista e outros
citados. A primeira gestão petista no Piratini também foi criticada por setores
contrários à reforma agrária e à implementação de políticas de desenvolvimento
social.
Na avaliação do governo Tarso Genro, o petista acredita que
tem tido avanço nas questões sociais e na consolidação de políticas
apresentadas. “O governo pode fazer mais e melhor na execução de um programa.
Nunca se governa em situação ideal. Há muito o que fazer para um projeto de
desenvolvimento sustentável. Por isso, defendo a reeleição”, disse Olívio, que
também reiterou não desejar mais ser candidato a cargos públicos.
Uma comitiva formada por 26 deputados federais do PT visitou
na tarde de ontem alguns presos do processo do mensalão, instalados no Complexo
Penitenciário da Papuda. O encontro durou cerca de 30 minutos e aconteceu em
sala reservada para a conversa. Estavam presentes o deputado licenciado José
Genoino (PT), José Dirceu (PT), Delúbio Soares (PT) e Romeu Queiroz (ex-PTB).
“O que notamos é um clima de revolta muito grande pelas
circunstâncias em que a prisão ocorreu, completamente ao arrepio da legislação,
aos procedimentos (...) normais”, afirmou o deputado federal Nelson Pellegrino
(PT-BA). Entre os parlamentares que visitaram os presos, estavam o gaúcho Marco
Maia, além de Iriny Lopes (ES), Fátima Bezerra (RN) e Vicentinho (SP).
Em nome dos demais petistas, Pellegrino afirmou que não
houve críticas às condições da prisão, embora haja uma preocupação sobre a
situação da saúde de Genoino. “Até agora, as juntas médicas atestaram a
gravidade da situação do deputado Genoino e atestaram que ele não pode estar custodiado
aqui nesta unidade. Esta unidade não tem sequer um sistema de emergência”,
reclamou, afirmando ainda ser precária a situação do colega.
Pouco depois da visita, houve discussão entre manifestantes
do PT e mulheres que aguardavam desde a manhã o momento de visitar filhos e
maridos no complexo da Papuda, cuja entrada só será permitida a partir da manhã
de hoje. Elas começaram a gritar frases como “puxa-saco de ladrão” para os
deputados.
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