No pronunciamento de 1º de Maio, a presidente Dilma Rousseff
antecipou um pacote de bondades com o objetivo de acuar a oposição e tentar
recuperar popularidade. E disse que seus adversários “defendem a adoção de
medidas duras, sempre contra os trabalhadores”.
Dilma faz uma jogada política ousada. O reajuste de 10% do
Bolsa Família vale já a partir de maio para ser pago em junho. A correção da
tabela do Imposto de Renda das pessoas físicas terá efeito só no ano que vem,
porque termina nesta quarta, 30/04, o prazo de declaração.
O compromisso em manter a política de reajuste real do
salário mínimo é parte do debate econômico que o governo já está colocando em
curso. Esse debate pode ser resumido na seguinte frase presidencial: “Nosso
governo nunca será o governo do arrocho salarial”. Ou seja, ela insinuou que os
eventuais governos da oposição seriam duros em relação aos trabalhadores.
Se a oposição critica o reajuste do Bolsa Família, fica mal
na foto perante os beneficiados. Se elogia, chega atrasada. Se a oposição ataca
o reajuste da tabela do IR dizendo que só vale para o ano que vem e que isso
acarretará menos receita para o Tesouro, fica mal na foto perante os
assalariados. Se elogia, também chega tarde. Se a oposição combate a manutenção
da atual fórmula de reajuste real do salário mínimo, corre o risco de ouvir
novamente Dilma dizer que os adversários políticos são contra os trabalhadores.
Se se comprometem com essa medida, chegam atrasados. A atual regra vale até
2015.
Aliás, não está claro se Dilma bancará essa fórmula do
mínimo somente no ano que vem, se reeleita, ou se proporá em breve ao Congresso
a manutenção dessa política até 2018 (fim do próximo mandato presidencial) ou
2019. Se optar pelo segundo caminho, vai deixar os principais candidatos da oposição,
o senador Aécio Neves (PSDB) e o ex-governador Eduardo Campos (PSB) numa sinuca
de bico. Como votar contra em ano eleitoral?
A jogada de Dilma, porém, deverá ter um custo político
perante o mercado financeiro e os empresários. Vai minar o discurso de que ela
faria um ajuste econômico em 2015, pois antecipou medidas que resultarão em
aumento de despesa e queda de arrecadação.
*
Tática da surpresa
“A gente estava só apanhando. Tivemos de reagir”, resumiu um
auxiliar da presidente logo após o pronunciamento, que foi, na prática, uma
peça de campanha.
O Palácio do Planalto optou pela tática da surpresa e pelo
potencial de maior audiência para levar o discurso de Dilma ao ar nesta quarta
e não no feriado de quinta.
O Planalto detectou nas redes sociais uma articulação da
oposição para que televisores e rádios fossem desligados na hora da fala de
Dilma. Isso também pesou para a antecipação do pronunciamento.
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