Editorial de O Estado de S.Paulo
O poder tem suas vantagens. Em 2013 o PT bateu novo recorde
de arrecadação de doações de empresas privadas, chegando a quase R$ 80 milhões.
É uma marca particularmente notável pelo fato de não ter sido um ano eleitoral,
em que as doações se destinam, basicamente, ao custeio das atividades
partidárias. Segundo revelou o jornal Valor, com base na prestação anual de
contas apresentada pela legenda de Lula & Cia. ao Tribunal Superior
Eleitoral (TSE), em 2013 essas doações foram 57,3% maiores do que no primeiro
ano do governo Dilma Rousseff (2011).
Os principais doadores do PT- geralmente os mesmos que dão
dinheiro para todas as outras legendas partidárias - são empreiteiras de obras
públicas e grandes empresas que dependem fortemente da boa vontade do poder
público para o desenvolvimento de seus negócios. Isso evidencia, desde logo, a
distorção representada pela indevida influência que a força do dinheiro
empresarial passa a ter na política e, consequentemente, na administração pública,
a partir do instante em que as corporações fazem "doações" aos
partidos.
Justiça seja feita, essa distorção - que o STF está na
iminência de erradicar - não é uma invenção do PT. Há mais de uma década no
poder, a companheirada que não quer largar o osso só fez
"aperfeiçoar" a distorção, enquanto jura devoção à exclusividade do
financiamento público.
Mas não deixa de ser muito revelador de seu verdadeiro
propósito - a permanência no poder a qualquer custo - os petistas se deixarem
tranquilamente financiar pela elite que tão ferozmente combatem. Afinal, quem
são os donos das maiores empresas do País? E bota elite nisso, porque 74,3% das
doações de empresas recebidas pelo Diretório Nacional do PT no ano passado (R$
59,27 milhões) saíram do bolso de um grupo de apenas 10 delas. À frente desse
grupo está uma empreiteira que contribuiu com generosos R$ 12,3 milhões,
despesa contabilizada que representa apenas 2% dos mais de R$ 590 milhões que
faturou em contratos com o governo federal em 2013.
A lógica desse processo de financiamento partidário - que
transforma governantes e aspirantes a essa condição em reféns do poder
econômico - por si só demonstra que o modelo é incompatível com os fundamentos
de uma sociedade democrática, na qual o voto de cada cidadão é o único
instrumento legítimo para a eleição de mandatários. Empresas não votam. E seu
objetivo é, primeiro, o lucro e, depois, a maximização do lucro - o que não é
nenhum pecado ou demérito no capitalismo.
A receita total do diretório nacional do PT em 2013, ainda
segundo a prestação de contas apresentada ao TSE, foi de R$ 170 milhões. Depois
dos R$ 79,7 milhões em doações de empresas (57,3% do total), a segunda maior
parcela é constituída pelos recursos públicos provenientes do Fundo Partidário:
R$ 58 milhões (34%). E ainda R$ 32 milhões (18,8%) em contribuições de filiados
que ocupam cargos na administração pública. As doações de pessoas físicas foram
de apenas R$ 2,9 mil, equivalentes a menos de 0,05% da receita total.
A aparente má notícia é que, daqueles R$ 170 milhões, o
saldo remanescente para o ano eleitoral de 2014 foi de modesto R$ 1,6 milhão.
Isso deveria preocupar a cúpula do partido, que terá de enfrentar milionários
compromissos financeiros na campanha eleitoral deste ano. Financiar candidaturas
ao Planalto, ao Congresso, às governanças e assembleias estaduais, com os
requintes tecnológicos determinados pelos marqueteiros, demanda recursos
astronômicos. Mas a elite política não está preocupada com isso. A máquina
arrecadadora petista - e a dos demais partidos também - tem um longo, ameno e
proveitoso convívio com a elite que é dona do dinheiro.
Fique também tranquilo o cidadão-contribuinte. No final,
será ele o verdadeiro financiador das campanhas políticas milionárias, pois as
obras públicas que forem feitas e os serviços que forem prestados certamente
virão generosamente majorados para proporcionar o reembolso daquilo que, para
uns, é financiamento de uma atividade cívica, mas, para outros, é um
investimento altamente lucrativo.
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