Por Daniel Haidar, Veja
Um relatório da Polícia Federal concluído nesta quinta-feira
confirma que o deputado federal Luiz Argôlo (SDD-BA) recebia dinheiro do
doleiro Alberto Youssef, como revelou reportagem de VEJA. O juiz federal Sérgio
Moro determinou a remessa ao Supremo Tribunal Federal (STF) das conclusões
policiais e das transcrições de conversas telefônicas de Youssef em que Argôlo
aparece como seu interlocutor do doleiro. Em decisão publicada nesta
quinta-feira, Moro destaca que mensagens interceptadas na operação Lava-Jato
revelaram indícios de negócios comuns do doleiro e do deputado. Como Argôlo possui
foro privilegiado por ser parlamentar, só o STF poderá decidir se ele deve ser
investigado por essas suspeitas de crime. Moro destaca que, em nenhum momento,
o deputado foi alvo da operação e que só foi descoberto seu envolvimento com o
doleiro porque os telefones de Youssef foram monitorados.
O relatório policial destaca a reportagem de VEJA que
revelou o intenso relacionamento financeiro de Argôlo e Youssef. De acordo com
a PF, eles trocaram 1.411 mensagens. O deputado usava o telefone funcional da
Câmara para falar com o doleiro, mas também um telefone exclusivo para
comunicação entre eles, cujos créditos eram pagos por Youssef - que em certas
mensagens chamava o deputado de "bebê Johnson". Em diversos momentos,
Argôlo cobra entregas de dinheiro para si próprio e para outros. Um dos
endereços de entrega foi a residência do parlamentar em Brasília, indicam os
policiais.
No dia 18 de setembro do ano passado, o deputado e Youssef
combinaram a entrega de 270.000 reais ao parlamentar. Em 15 de outubro, combinaram
novo repasse de recursos, com 40.000 reais que seriam para outras pessoas e de
20.000 a 30.000 reais para o próprio Argôlo. No dia 27 de fevereiro deste ano,
o deputado cobrou o repasse de 280.000 reais para outra pessoa, mencionada
apenas como “V”.
Uma das novidades do relatório é a revelação de que Youssef
e Argôlo combinaram encontros com diretores de empreiteiras que são grandes
fornecedoras da Petrobras e importantes doadoras de campanha. A polícia
suspeita que no dia 14 de outubro de 2013 a dupla se reuniu com Mateus
Coutinho, diretor-financeiro da OAS S.A., na casa do doleiro em Vila Nova
Conceição, na capital paulista. No dia seguinte ao encontro, eles se divertiam
com o fato de ter tomado uma garrafa de vinho Vega Sicilia de 3 mil reais.
Durante as operações de busca e apreensão de documentos nos
endereços de Youssef, a polícia apreendeu um cartão de visita de Coutinho em um
escritório do doleiro. No dia 27 de novembro do ano passado, Youssef perguntou
se Argôlo terminou uma reunião e informou, em seguida: “Estou na Angélica
saindo do Matheus”. O escritório central da OAS fica na Avenida Angélica, em
Higienópolis, região central de São Paulo. Outra suspeita da PF é de que, no
dia 12 de março, Youssef esteve no escritório de Coutinho: “To no Matheus
aguardando ele. Vai me atender”.
Já se sabe que a OAS depositou 1,6 milhão de reais em contas
bancárias da MO Consultoria, uma das empresas de fachada comandadas pelo
doleiro, de acordo com a investigação policial.
Também foram identificados contatos de Youssef com o
empresário Ricardo Pessoa, sócio-diretor do grupo UTC/Constran. Para a polícia,
as conversas indicam que Argôlo marcou uma reunião com o empresário no dia 14
de outubro. Youssef recebeu a seguinte mensagem, que a polícia suspeita ter sido
enviada por Pessoa: “Essa moça está mandando msg (já enviou 4 so hoje) dizendo
que você não apareceu. Abs RP”.
O juiz deu cinco dias para que o Ministério Público Federal
emita parecer sobre o relatório policial. Depois desse prazo, os documentos
serão finalmente remetidos ao STF.
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