quinta-feira, 15 de maio de 2014

TEMPO BOM, TEMPO RUIM

Muito há para ser feito em termos de conquista dos direitos LGBT no país. O casamento igualitário é reconhecido judicialmente, mas não pela legislação. Travestis e transexuais não conseguem realizar a mudança de nomes e gênero no registro civil.
Por esse motivo é que em matéria de direitos humanos, o Brasil mereceria nota 5. Não que o brasileiro seja conservador. É a elite política que é conservadora. E os partidos de esquerda, de certa forma, também.
Em suma, apesar dos avanços, ainda vivemos em uma sociedade heteronormativa.
Este diagnóstico faz parte de "Tempo Bom, Tempo Ruim", em que o jornalista, professor, ex-"BBB" e hoje deputado federal Jean Wyllys, 40, do PSOL, procura compartilhar a experiência adquirida nos anos de militância pelos direitos humanos.
O livro é didático, na medida em que introduz o leitor no conhecimento de conceitos básicos, mas não tão disseminados como a distinção entre sexo, identidade de gênero e orientação sexual.
É também, obviamente, um livro sobre a visão de mundo de Wyllys, que fica entre a crônica e o ensaio, com laivos de autobiografia.
Wyllys vem de uma família abaixo da linha da pobreza, do interior da Bahia. Reconheceu-se como homossexual na época em que militava em uma comunidade eclesial de base. Conseguiu ingressar em uma entidade educacional filantrópica de excelência, em Salvador, e graduou-se em jornalismo.
E por que o título? "Estamos vivendo tempos bons e tempos ruins. Um momento de ambivalências, de avanço e retrocesso. Não está claro para onde o Brasil está indo", afirma o autor à Folha.
"Ao mesmo tempo em que nos posicionamos como a quinta maior economia do mundo, temos um baixíssimo IDH, vemos a sombra desumana dos linchadores se estender, os fundamentalistas religiosos se organizando financeira e politicamente."
Wyllys se define como sendo de uma "esquerda renovada". Mas com ressalvas. É que a esquerda sempre teve problema de lidar com a liberdade individual, diz ele.
"A ponto de todos os homossexuais terem vivido no armário nos anos de chumbo. Você não podia dizer que era homossexual em um grupo guerrilheiro."
Wyllys, que deve concorrer à reeleição, ainda acrescenta ter muitos pontos em comum com o PSOL mas algumas divergências. "Os temas relacionados à sexualidade não foram tão bem assimilados no partido. Há um debate que não está resolvido."
Podem soar questionáveis algumas formulações do deputado, como a de que "ser de esquerda é defender as minorias". Mas, no geral, o autor mantém uma coerência dentro de sua linha de pensamento, mostra coragem e utiliza com espirituosidade referências que vão da literatura ensaística às letras de MPB.
Tempo Bom, Tempo Ruim – autor Jean Wyllys
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