Do blog do Mário Magalhães
Um mês e um dia depois de triunfar nas urnas, Dilma Rousseff
confirmou nesta quinta-feira que Joaquim Levy _diretor do Bradesco, sócio de
ideias de Armínio Fraga e conselheiro ad hoc do candidato Aécio Neves_ será o
próximo ministro da Fazenda.
A presidente não se pronunciou de viva voz. Talvez temesse
não ser reconhecida como a candidata com acento de esquerda que conquistou a
reeleição.
Assim como os adesivos colados no tapume acima, fotografado
hoje de manhã aqui no Rio, vão perdendo o viço e a identidade.
Não parece que a eleição foi ontem ou anteontem, mas que é
mais velha do que as novelas reprisadas na TV.
Qualquer cidadão que não cultive o auto-engano ou professe a
desonestidade intelectual sabe que a distância entre o discurso da petista na
campanha deste ano e a entronização de Levy no Ministério mais importante se
assemelha ao abismo entre o Barcelona do Pep Guardiola e o Botafogo do Maurício
Assumpção.
Os louvaminheiros não contam, pois a adulação a Dilma
estaria garantida fosse o escolhido o economista João Pedro Stédile, dirigente
histórico do MST, ou o ex-ministro Pedro Malan, conselheiro do Itaú. É gente
sempre disposta a aplaudir, vendendo os argumentos da véspera ao preço de Black
Friday ou nem isso.
Portanto, abstenho-me de relembrar, uma vez mais, o que a
concorrente Dilma disse sobre a banqueira da campanha de Marina Silva e o
ex-futuro ministro da Fazenda de nomeação extemporânea por Aécio Neves.
Que os eleitores de Dilma que a sufragaram por recusar o
arrocho mercadista foram feitos de bobos, inexiste dúvida.
A manifestação inaugural de Levy depois de anunciada a
indicação antecipou que virá arrocho, embora, moço educado, ele jamais vá
empregar tal termo inconveniente.
No entanto, talvez por não me livrar de uma credulidade
cristã e às vezes me faltar o ceticismo de ateu aconselhável no jornalismo,
prefiro pensar que não houve dolo.
Noutras palavras, que Dilma não fez de caso pensado. O quê?
Prometer uma coisa antes do pleito e aplicar outra em seguida.
É seu direito convocar quem bem entender para o governo. É
ilegítimo, contudo, declarar antes que rejeitará determinadas ideias e seus
arautos e depois implementá-las sob a batuta dos desqualificados de antes.
O que houve a partir da noite de 26 de outubro foi uma
pressão equivalente a essas ondas que a Maya Gabeira encara mundo afora.
Não da maioria dos eleitores, que optaram por Dilma e
supuseram que no governo reloaded ela faria o que afirmara.
E sim dos vencidos, cujo destacamento de vanguarda foi
formado pelos empresários do setor financeiro.
A banca alardeou o caos, e certo jornalismo rebimbou o
cenário de iminente fim dos tempos.
Três dias depois do segundo turno, uma primeira página de
jornal tinha 14 (isso mesmo: catorze!)
chamadas contra o governo federal. Pareceu o regresso à quadra em que João
Goulart era o alvo.
Em vez de formar um time na economia com as características
da pregação de palanque, Dilma chamou um Armínio Fraga com menos verniz, mas
com mais disposição ainda para sufocar os gastos públicos que, num país de
desigualdade obscena, promovem um pouco mais de igualdade.
É necessário muito malabarismo retórico para ajustar Joaquim
Levy à política que a presidente propagandeara.
Não foi ele quem cedeu, mas ela.
Os brasileiros mais ricos estão em festa com a boa nova.
Na noite de ontem, no “Jornal Nacional'', um dos mais
contundentes críticos do governo Dilma exultava. Era Maílson da Nóbrega, o
consultor de endinheirados que, na pele de ministro, comandava a economia
quando a inflação bateu em 84% num só mês, março de 1990.
Maílson tem mesmo motivos para celebrar. Ele e seus pares
perderam a eleição, mas emplacaram o ministro da Fazenda.
Dilma Rousseff, “Coração Valente'' da campanha, fraquejou e
prestigiou os derrotados de outubro.
Se supõe que eles se darão por satisfeitos, está enganada: a
presidente vitaminou suas pretensões.
O apitou mal trilou. Há muito jogo pela frente. E Kátia
Abreu se prepara para entrar no campo…
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