Do site da Veja
Seja quem for seu escolhido para ditar os rumos da economia
brasileira na nova equipe ministerial, é certo que 2015 será um ano duro para a
presidente Dilma Rousseff. Reeleita numa eleição acirrada e com estreita margem
de votos, Dilma terá pela frente um cenário econômico desalentador, que a
obrigará a tomar medidas impopulares e acalmar o mercado financeiro. Paralelamente,
a menos que inicie um movimento conciliatório – e ele dê certo – nos próximos
dois meses, terá dificuldades na interlocução com o Congresso Nacional, que por
si só já estará alvoroçado com as denúncias do petrolão.
"A democracia brasileira vai passar por um teste de
estresse, com muita disputa, uma polarização bastante intensa. Tudo conspira
para que presidente tenha grandes dificuldades no Congresso, na economia e no
atendimento aos anseios da sociedade", afirma o professor Carlos Pereira,
da Escola de Administração Pública da FGV.
O ponto mais sensível do futuro governo é a economia. Sob
efeito de uma persistente pressão inflacionária – 6,75% nos últimos doze meses
e longe do centro da meta de 4,5% – o novo governo terá pela frente o desafio
de reverter o baixo crescimento econômico, melhorar a condução da política
fiscal para diminuir a dívida pública, estancar a crise de desconfiança dos
investidores e passar credibilidade suficiente para evitar que o Brasil perca o
grau de investimento recebido em 2008.
“O mais importante problema que vamos enfrentar daqui para
frente diz respeito à questão fiscal. Crescimento e a inflação são itens
preocupantes, mas se não arrumar a área fiscal, as demais questão passam a não
ser eficazes”, diz o doutor em economia Flávio Basílio, da Universidade de
Brasília (UnB). “O fiscal também é importante para garantir o grau de
investimento da economia brasileira, para auxiliar o Banco Central no combate à
inflação e também acaba reduzindo os juros futuros, que é uma variável
relevante para a decisão sobre os investimentos do país”, completa.
Ainda no campo econômico, a presidente reeleita terá mais
bombas para desarmar: o inevitável reajuste no preço dos combustíveis e o risco
de problemas na oferta de energia elétrica em 2015 caso persista a escassez de
chuvas. Por temer impactos no desempenho eleitoral da presidente Dilma, o
governo postergou para depois do segundo turno o reajuste no preço da gasolina,
desidratando o caixa da Petrobras, já que a estatal tem de importar parte do
combustível que vende por não produzir nem refinar toda a gasolina exigida
pelos consumidores brasileiros. Como os preços do mercado doméstico estão
defasados em relação aos do mercado internacional, o prejuízo recaiu sobre o
caixa da petroleira.
“Existem dúvidas se ela vai ser capaz de reequilibrar as
contas públicas, porque o governo foi negligente com a macroeconômica em todo o
primeiro mandato. Não temos crescimento econômico e estamos em recessão
técnica. Somado a isso, o escândalo da Petrobras e o depoimento do doleiro
Youssef, que mencionou diretamente tanto ela quanto o ex-presidente Lula, pode
colocar grande parte do governo em suspeição e fragilizar naturalmente o novo
mandato da presidente Dilma", diz Carlos Pereira, da FGV.
No setor elétrico, contribuem para a formação de mais um
campo minado o baixo nível dos reservatórios das hidrelétricas, o aumento da
necessidade das térmicas, que têm energia mais cara, e a inescapável
dependência das chuvas. No mais, Dilma terá de rever as nomeações políticas –
boa parte das indicações na Eletrobras e em subsidiárias são feitas pelo PMDB –
e provavelmente substituir o atual ministro de Minas e Energia, Edison Lobão,
enfraquecido após ter sido citado pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa
como uma das autoridades que receberam propina do petrolão.
Além do impacto na imagem da Petrobras, a maior empresa
pública brasileira, os mais emblemáticos efeitos do esquema de corrupção na
estatal deverão começar a ser sentidos no próximo ano e também entram na lista
de tempestades a serem administradas pela presidente Dilma Rousseff. Com a
esperada homologação da delação premiada do doleiro Alberto Youssef, os nomes
de deputados e senadores citados tanto por ele quanto pelo ex-diretor da
estatal Paulo Roberto Costa deverão vir a público, comprometendo próceres do
PT, PMDB e PP e abrindo espaço para o esfacelamento da base aliada da petista
reeleita. A própria Dilma e o antecessor no cargo, Luiz Inácio Lula da Silva,
também poderão ter sérios problemas com o Judiciário no desenrolar do caso.
A diferença é que, a partir do próximo ano, as artimanhas do
marqueteiro João Santana poderão não ser suficientes.
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