quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

UM MINISTÉRIO MUITO LOUCO

É impossível constituir um agrupamento de 39 pessoas sem que haja divergências ou desequilíbrios. Mas a presidente Dilma Rousseff ultrapassou os limites do razoável na formação do seu ministério para o segundo mandato. Ao escancarar as portas do governo para o loteamento de cargos, Dilma formou um time sem nenhuma lógica, composto por alguns nomes pouco respeitados nas áreas que vão gerenciar – alguns com inexperiência confessa – e um exército de apadrinhados políticos.
Para quem não está familiarizado com o fisiologismo partidário brasileiro, a variedade de interesses e de siglas representadas pode até parecer um sinal de pluralidade, mas o resultado é uma equipe disfuncional, sempre sujeita ao arbítrio da chefe para resolver desavenças e tomar decisões concretas. O site de VEJA separou 20 exemplos de ministros que evidenciam a falta de critérios na montagem do primeiro time do governo.
Berzoini – É um dos poucos nomes que os radicais do PT conseguiram emplacar no ministério de Dilma. A missão não é secreta: instituir a censura dos meios de comunicação. Nisso, entretanto, o petista tem uma postura diferente da própria presidente Dilma Rousseff. Corre o risco de falar sozinho ou de arrumar brigas com partidos aliados no Congresso. Como o PMDB, que é contrário à censura.
Jaques Wagner – Quando governou a Bahia, o escolhido de Dilma para o Ministério da Defesa bancou a reforma de dois imóveis destinados a abrigar um memorial que homenagearia o terrorista Carlos Marighella, responsável por pelo menos 13 assassinatos. Apesar de o espaço ainda não ter ficado pronto, isso lhe rendeu a antipatia dos militares. Wagner também não é um especialista em segurança. A taxa de homicídios na Bahia é a quinta maior do país, e pulou de 23,8 para 41,9 por 100.000 habitantes de 2007 a 2012, sob a gestão dele.
George Hilton – Com experiência zero no Esporte e um passado desabonador (foi expulso do PFL após ser flagrado com malas de dinheiro), o novo ministro chegou ao posto graças à indicação de seu partido, o PRB, ligado à Igreja Universal. Enquanto esteve na Câmara dos Deputados, Hilton também defendeu bandeiras contrárias à do movimento LGBT, o que desagradou parlamentares petistas.
Cid Gomes – A presidente Dilma Rousseff anunciou que a educação será prioridade em seu segundo mandato. Escolhido para comandar a "Pátria Educadora", Cid Gomes é um fernômeno: não chegou ao ministério por indicação de especialistas no assunto, nem por ter feito carreira no setor, muito menos por indicação de seu partido. Recebeu o cargo apenas por sua lealdade a Dilma. Se conseguir educar o irmão, o desbocado Ciro Gomes, já terá alcançado um feito e tanto.
Aldo Rebelo – O comunista que será responsável pela pesquisa e inovação tecnológica apresentou um projeto de lei para coibir a adoção de... inovações tecnológicas "poupadoras de mão de obra" em órgãos públicos. Jornalista de formação, Aldo tem um currículo acadêmico incipiente. Seu nacionalismo folclórico, ao estilo do personagem Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, tampouco deve ajudá-lo na missão.
Kátia Abreu – A nova ministra da Agricultura, que até 2011 pertencia ao oposicionista DEM, chegou ao cargo sob artilharia do PT, foi vaiada por integrantes do MST durante a posse presidencial e, um dia depois de assumir a pasta, já ouviu críticas do ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias (PT). Com mais apoio no agronegócio do que no mundo político, Kátia Abreu se fia na proximidade com Dilma, já que é recém-chegada no PMDB e não tem sustentação no próprio partido. Por seu estilo intenso na defesa do setor, deve ser presença frequente no noticiário.
Juca Ferreira – Foi ministro da Cultura no final do governo Lula e parece ter colecionado inimigos. Ana de Hollanda, que o sucedeu no cargo quando Dilma assumiu a Presidência, criticou a escolha de Juca para integrar a campanha pela reeleição. Marta Suplicy, que deixou o ministério em novembro, também não gostou: "A população brasileira não faz ideia dos desmandos que este senhor promoveu à frente da Cultura brasileira".
Nilma Gomes – Foi ela quem elaborou um parecer pedindo que o livro Caçadas de Pedrinho fosse vetado em escolas públicas. Na época, Nilma Gomes integrava o Conselho Nacional de Educação. Ela acreditava ter descoberto, oito décadas depois, que a obra de Monteiro Lobato era racista e precisava ser banida. Por sorte, acabou ignorada.
Ideli Salvatti – A petista alcançou uma marca notável no governo Dilma: é a única pessoa a comandar três ministérios sem ter qualquer afinidade com qualquer um deles. Ela foi ministra da Pesca e de Relações Institucionais, de onde saiu para passar o bastão a Ricardo Berzoini. Acabou alojada nos Direitos Humanos, onde não foi bem aceita. Na semana passada, a Secretaria de Direitos Humanos do PT emitiu uma nota pedindo mudanças no comando da pasta, mas Dilma preferiu manter Ideli no posto.
Eliseu Padilha – É um sobrevivente: foi ministro dos Transportes de Fernando Henrique Cardoso e perdeu o cargo após denúncias de que teria mandado dinheiro para o exterior ilegalmente. Padilha é um adversário histórico do PT no plano estadual. Em 2010, ele nem mesmo apoiou Dilma contra José Serra. Mas, nas últimas eleições, "converteu"-se e participou ativamente da campanha da petista. Ganhou seu lugar no ministério.
Nelson Barbosa – A nomeação de Nelson Barbosa para o Ministério do Planejamento fez parte da tentativa de retomada da credibilidade à área econômica do governo. Mas no segundo dia de mandato já veio a primeira bronca presidencial: Dilma desautorizou Barbosa, que na véspera havia mencionado uma possível mudança na regra de cálculo do salário mínimo. A presidente o obrigou a se retratar. Restou a dúvida: o ministro terá alguma autonomia no cargo?
Gilberto Kassab – Merece ser reconhecido pela persistência: mesmo tendo sido vaiado em praticamente todos os eventos do PT ao qual compareceu nos últimos anos, ele manteve seu apoio a Dilma Rousseff e foi agraciado com o Ministério das Cidades. O O homem que personifica o vazio ideológico da política brasileira cumpre, assim, o caminho projetado desde que abandonou o DEM, em 2011, para criar o PSD. Isso se nos próximos meses ele não conseguir criar alguma outra legenda no país...
Vinícius Lages – Continua desconhecido da população mesmo após ocupar o cargo por quase um ano. Apadrinhado do senador Renan Calheiros, Lages terá poucas chances de deixar o anonimato: deve passar o bastão para algum político em breve.
Manoel Dias – O Ministério do Trabalho esteve em evidência no ano de 2011, mas pelos motivos errados. A enxurrada de denúncias contra o então ministro Carlos Lupi motivaram a demissão do pedetista. Mas Dilma tinha de garantir apoios para sua reeleição. Por isso, negociou com o próprio Lupi a nomeação de Manoel Dias, que assumiu em 2013 e foi mantido no cargo para o segundo mandato.
Carlos Gabas – O ministro da Previdência é um dos poucos nomes da equipe a ter um relacionamento mais próximo com Dilma. É dele o relato, supostamente verídico, do dia em que Dilma passeou pelas ruas de Brasília na garupa de sua Harley Davidson. Gabas seria o piloto. Mesmo quando a Previdência Social era comandada por Garibaldi Alves, aliados afirmam que era ele quem, na condição de número dois, tocava o ministério.
Marcelo Néri – A única atribuição clara da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) é coordenar o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Com orçamento mínimo, interlocução zero e autonomia inexistente, a pasta não tem importância no governo e só foi criada porque o ex-presidente Lula queria dar um cargo ao professor Mangabeira Unger, oito anos atrás. Dilma notou isso: tanto que escolheu o presidente do Ipea, Marcelo Néri, para chefiar também a SAE.
Edinho Araújo – O deputado peemedebista construiu carreira na cidade de São José do Rio Preto, que fica a mais de 500 quilômetros do mar, e não tem qualquer experiência no ramo portuário. Mas o que define a distribuição dos cargos não é exatamente a competência: como representante da bancada peemedebista, a Secretaria de Portos foi o que restou para Edinho. Era pegar ou largar.
Gilberto Occhi – Herdou o Ministério das Cidades no ano passado quando o titular, Aguinaldo Ribeiro, abriu mão do cargo para disputar a eleição. Agora, cedeu o lugar a Kassab e foi realojado na Integração. Mas é candidato a integrar a primeira lista de substituídos. Embora seja filiado ao PP, ele não tem peso político.
Pepe Vargas – O petista será o responsável por uma tarefa difícil: a interlocução entre o governo e o Congresso. Pepe já assumiu o cargo fazendo o jogo do governo e desqualificando as CPIs, um instrumento importante de investigação. Há quem duvide que o parlamentar será capaz de construir pontes e garantir apoios no Parlamento.
Helder Barbalho – Helder é filho do inesquecível Jader Barbalho; derrotado na disputa pelo governo do Pará, ele ganhou como prêmio de consolação um dos ministérios mais desprestigiados do governo. Ajudou, assim, o Planalto a cumprir a cota de seis ministérios cedidos ao PMDB. Quanto às expectativas sobre o desempenho de Helder... Há quem diga que os pescadores brasileiros sobreviveram séculos por conta própria sem precisar de um representante no primeiro escalão do governo.
Conteúdo : Veja
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