Da Veja
Muito se discute sobre as motivações que um empreiteiro há
três meses preso na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba teria para
contar o que sabe — não por ter ouvido falar, mas por ter participado dos
eventos que está pronto a levar ao conhecimento da Justiça.
O engenheiro baiano Ricardo Pessoa, dono da construtora UTC,
tem várias. A primeira, evidente, é não ser sentenciado pela acusação de montar
um cartel de empreiteiras destinado a fraudar licitações na Petrobras, quando a
festa pagã de que ele tomou parte na estatal foi organizada pelo PT, o partido
do governo.
A segunda, também óbvia, é atrair para o seu martírio o
maior grupo de notáveis da política que ele sabe ter se beneficiado das
propinas na Petrobras e, assim, juntos, ficarem maiores do que o abismo —
salvando-se todos. A terceira, mais subjetiva, é, atormentado pela ideia de que
tudo o que ele sabe venha a ficar escondido, deixar registrado para a
posteridade o funcionamento do esquema de corrupção na Petrobras feito com fins
eleitorais.
Antes dono de um porte imponente e até ameaçador, Pessoa
está magro e abatido. As acusações de corrupção ativa, lavagem de dinheiro e
participação em organização criminosa que pesam sobre ele poderiam ser
atenuadas caso pudesse contar, em delação premiada, quem na hierarquia política
do país foi ora sócio, ora mentor dos avanços sobre os cofres da Petrobras.
“Vou pegar de noventa a 180 anos de prisão”, vem dizendo
Ricardo Pessoa a quem consegue visitá-lo na carceragem. Foi com esse espírito
que fez chegar a VEJA um resumo do que está pronto a revelar à Justiça caso seu
pedido de delação premiada seja aceito. A negociação com os procuradores
federais sobre isso não caminha.
Pessoa reclama que os procuradores querem que ele fale de
corrupção em outras estatais cuja realidade ele diz desconhecer por não ter
negócios com elas. Já os procuradores desconfiam que Pessoa está sonegando
informações úteis para a investigação. O impasse só favorece o governo, pois o
que Pessoa tem a dizer coloca o Palácio do Planalto de pé na areia do mar de
escândalos.
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