A inquietação em São Paulo e os relatos que ouvi aqui em
Brasília de fúria em pequenas cidades do Nordeste evidenciam que o ódio, a
indignação e a impotência chegaram aos que não bateram panelas. Somem-se a isto
a assustadora corrupção na maior empresa brasileira, uma presidente que insiste
em afirmar que a crise é conjuntural e internacional, quando os indicadores
mostram quanto a economia vem se deteriorando, além de teimar que as
manifestações são da burguesia ou de quem quer terceiro turno. Resultado: apreensão
quanto às manifestações de hoje e domingo.
O governo perdeu a iniciativa política e se enfraquece na
sucessão de erros e trapalhadas. Este é o centro da questão, a chave do
problema.
Enquanto o governo não mudar, de forma radical, sua linha
política, nada se resolverá. É urgente e necessária uma total reestruturação do
time responsável pela desastrada estratégia adotada neste início de governo.
Não gruda o Palácio chamar o panelaço de manifestação
"Le Creuset" (marca de panelas gourmet). Nas periferias, a comida na
mesa está diminuindo, o desemprego ronda, os alagamentos continuam constantes e
começa a chegar a conta da luz 23% mais cara. A sensação de abandono é
gigantesca. Todas as classes já perceberam a falta de sinceridade e explicações
longe do real e demonstram, como podem, o desacordo com isso.
O governo Dilma e seu núcleo político não têm mais condições
de continuar errando. Passou da hora de mudar a postura, construir um novo
consenso, se é que é possível. É preciso reordenar as ações e o discurso. As
pessoas que aí estão não têm mais autoridade, capacidade e nem condições de
continuar. Comprometem o país, fazendo ruir por completo a legitimidade deste
governo recém-eleito. Sabemos que não estão lá por acaso, pois em muito se
assemelham à protagonista.
O que está em jogo é a governabilidade, a sobrevivência de
um país que só encontrará a saída através do redirecionamento de sua orientação
política e econômica. Do contrário, teremos o aprofundamento das dificuldades e
continuaremos caminhando, a passos largos, para uma crise institucional sem
precedentes.
Não há como continuar com uma equipe de governo que se
distanciou, que quase rompeu com o Congresso Nacional e que, por seus vícios
sectários e métodos excludentes, estabeleceu uma verdadeira ruptura com a vida
nacional.
Uma coisa é certa, se não podemos trocar de comandante, em
pleno voo de turbulências, o mínimo que podemos exigir é a troca imediata da
equipe de comando. A começar pelo copiloto, responsável maior por ter traçado a
desastrada rota de voo.
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