segunda-feira, 29 de junho de 2015

PAPEL DE BIOMBO

Edinho Silva assume papel de biombo de Dilma
Com o óleo queimado da Petrobras a tocar-lhe o bico dos sapatos, Dilma Rousseff atrasou sua partida para os Estados Unidos neste sábado. Antes de decolar, a presidente retirou os pés da realidade numa minireunião ministerial. Voou para encontrar-se com Barack Obama imaginando que a crise que subiu a rampa do Palácio do Planalto com a delação do empreiteiro Ricardo Pessoa ficará restrita ao gabinete de Edinho Silva, tesoureiro de sua campanha e atual ministro de Comunicação Social da Presidência.
Comandante suprema de uma campanha eleitoral sob questionamento, Dilma subverteu a hierarquia. Transferiu todas as responsabilidades e eventuais culpas para o oficial da intendência, que, numa tropa, é quem cuida das tarefas financeiras e das provisões. Concluída a conversa com Dilma, Edinho foi conduzido à fogueira pelo colega José Eduardo Cardozo, que mandara chamar os jornalistas para uma entrevista no Ministério da Justiça.
— Como foi a conversa com a presidente? Qual é a posição dela sobre essa delação de Ricardo Pessoa?, quis saber um repórter
— A presidenta me concedeu total autonomia para que eu defenda a minha honra, para que eu tome todas as medidas necessárias em defesa da minha honra. Causa estranheza a mim, como causou a outros ministros, que o vazamento tenha ocorrido e que tenha sido de forma seletiva, respondeu Edinho, tenso dentro dos sapatos.
— Essa é uma justificativa pessoal. A presidente Dilma pretende explicar os R$ 7,5 milhões da campanha, que estão relacionados ao nome dela?, insistiu uma repórter.
— Quem arrecadou para a campanha presidencial fui eu. Portanto, quem responde pelas doações da campanha da presidenta Dilma sou eu, disse Edinho, bem ensaiado para o papel de biombo.
O ministro José Eduardo Cardozo não falou muito. E o pouco que disse foi para enfatizar a condição de anteparo reservada a Edinho. Indagado sobre as orientações deixadas por Dilma antes de viajar, o titular da Justiça jogou mais lenha ao redor dos pés do tesoureiro:
— A presidenta Dilma Rousseff, eu sou testemunha disso, desde o início, sempre orientou a todos os membros da sua campanha e, particularmente, o seu tesoureiro Edinho, para que agissem estritamente dentro da lei. Ela tem absoluta certeza de que a sua determinação foi cumprida pelo ministro Edinho. Se eventualmente alguém fala o contrário, que demonstre. Tenho certeza que não demonstrará, porque tudo aquilo que eu vi nessa campanha eleitoral […] atesta que, efetivamente, o ministro Edinho cumpriu a determinação da presidente da República. Foi por isso, então, que ela disse ao ministro Edinho e a todos os outros que por ventura tenham sido atingidos […] que agissem. Ou seja, defendam-se.”
Levado ao microondas, o tesoureiro-ministro Edinho, já bem passado, cuidou de colocar em pé a segunda estaca da estratégia de defesa montada para tentar blindar Dilma. Ele disse estranhar a seletividade dos vazamentos, já que a campanha de Dilma não foi a única beneficiária de doações das empresas do delator Ricardo Pessoa. Em privado, Dilma e seus ministros citam a campanha presidencial de Aécio Neves e de governadores tucanos como Geraldo Alckmin, de São Paulo.  Sob holofotes, Edinho se absteve de mencioná-los:
— As doações são públicas. É só vocês irem no site do TSE que elas estão lá. O que eu digo é que a UTC ou as empresas ligadas ao grupo UTC não fizeram doações apenas para a campanha da presidente Dilma. O que me estranha é que as suspeitas sejam colocadas apenas em relação às doações legais da campanha da presidenta Dilma.
Edinho anunciou, de resto, que contratará um advogado. Quer ser ouvido no processo em que seu nome foi mencionado. E planeja requisitar cópia dos depoimentos do seu algoz Ricardo Pessoa. Tudo o que fugir ao script das doações limpinhas e legais, será objeto de futuros processos judiciais, ameaçou.
— Caso se confirmem as mentiras divulgadas pela imprensa, eu tomarei as medidas judiciais em defesa da minha honra. O que farão cessar os benefícios decorrentes de uma delação premiada que não expressa a verdade dos fatos.
Conforme já comentado aqui, a coreografia montada para proteger Dilma é frágil. Em sua viagem aos Estados Unidos, quando for questionada sobre o incêndio, a presidente sempre poderá dizer que as dúvidas relacionadas ao caixa de sua campanha devem ser dirimidas com o tesoureiro. O diabo é que, aos olhos da Justiça, que é cega mas não pode ignorar a lei, quem responde por eventuais crimes é a titular da campanha.
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