Por Eliane Cantanhêde, colunista de O Estado de S.Paulo
Nesta encrenca política tão grande e tão desafiadora,
inverteu-se o jogo. Diante da crise política e econômica, com a Lava Jato
chegando ao Congresso, é a elite quem toma a dianteira para apoiar o
claudicante governo Dilma Rousseff, enquanto as grandes massas que vão às ruas
rejeitam o PT e se aproximam da oposição, inclusive, ou principalmente, do
PSDB.
Se o PT borrou ainda mais as já embaçadas noções de direita
e esquerda, consegue agora também fazer uma baita confusão entre o que é
“elite” e o que é “massa”. Não custa lembrar que Lula, Dilma, José Dirceu e as
sucessivas cúpulas petistas já são elite há bastante tempo, não é mesmo? E,
aparentemente, a elite institucional uniu-se para salvar o mandato de Dilma e
parte da elite empresarial dá sinais nesse mesmo sentido.
Até a novidade do “protesto a favor”, na quinta-feira, não
deixa de ser um movimento de cúpulas, patrocinado pela elite dos velhos (CUT,
MST e UNE) e novos (como o MTST) braços do PT. A turma foi transportada em
ônibus, vestindo camisetas e carregando bandeiras vermelhas novinhas em folha.
Alguém pagou por isso, talvez até por mais do que isso.
De outro lado, os “protestos-protestos” mobilizaram dez
vezes mais pessoas, na grande maioria de classe média, vestindo suas próprias
camisetas verdes e amarelas e carregando bandeiras do Brasil que,
provavelmente, elas próprias pagaram. Será que esses manifestantes que
injetaram novidade e viço à cena política e às ruas de todo o País são “da
elite”? Pareciam cidadãos e cidadãs comuns, dessa gente que trabalha, estuda, é
aposentada ou rala em micro e pequenas empresas - e paga impostos e conta de
luz nas alturas.
A olho nu, não se identificaram ali banqueiros, grandes
empresários, altos burocratas, diretores de estatais, nem grandes coisa nenhuma,
até porque os bancos lucraram mais de 50% em meio à crise, dirigentes
partidários aliados estão numa boa e a elite incrustada nas estatais já encheu
as burras, digamos, heterodoxamente. Essa é a verdadeira elite, e ela está com
o PT e com Dilma, que parece estar se recuperando.
Depois de se capitalizar no Supremo, no TCU, no TSE e no
Senado, a presidente investiu fortemente no setor privado, recebeu apoio da
turma da CUT e ainda ganhou a sorte grande com a denúncia do procurador-geral
da República, Rodrigo Janot, contra seu arqui-inimigo Eduardo Cunha, presidente
da Câmara. Cada dia, sua agonia. No caso de Dilma: cada semana, sua agonia...
Na semana passada, foi a vez do pacote de bondades para o
empresariado: a reoneração camarada da folha de pagamento, o fim da votação do
ajuste fiscal e o financiamento farto e barato do Banco do Brasil e da Caixa
Econômica Federal para alguns setores, sob o pretexto de salvar empregos. O
primeirão da fila foi, ora, ora, o setor automobilístico. E os bancos públicos
também assumiram o crédito consignado dos funcionários, depois que os bancos
privados tiraram o corpo fora ao saberem que a empresa de software está, até
ela!, enrolada na Lava Jato.
Dilma, assim, se fortalece “por cima”, recolhendo as boas
notícias que vêm do Senado, de tribunais, da Procuradoria-Geral da República,
do empresariado e dos movimentos petistas, enquanto a oposição articula “por
baixo”, com os partidos e líderes irados com o governo, os novos movimentos que
levam muitos milhares às ruas em todo o País e os 71% que rejeitam Dilma nas
pesquisas.
A guerra continua, mas com sinais invertidos e com o PMDB, o
deputado Eduardo Cunha, o ministro Gilmar Mendes (STF/TSE) e os velhos e novos
delatores da Lava Jato bem no meio dela. Uma guerra que pode ser tudo, menos da
“elite branca” contra “a massa oprimida”. Isso é coisa do passado, quando o PT
ainda podia apresentar-se como partido dos trabalhadores.
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