Da Época
Existe uma correspondência clara entre os números ruins na
economia e as atribulações na vida do cidadão comum. Na semana passada, a
situação, que já era ruim, piorou um pouco mais. Os juros básicos subiram para
14,25% – recorde no governo Dilma e maior patamar em nove anos. As contas do
governo fecharam o primeiro semestre com deficit de R$ 1,6 bilhão, o pior
resultado desde 1997. Para o cidadão comum, isso significa juros mais altos em
qualquer tipo de crédito, dificuldade de conseguir aquele empréstimo para
reformar a casa (e, se conseguir, como pagá-lo?), alta dos preços na feira e no
supermercado e a ameaça crescente de aumento de impostos, num país onde eles já
são abusivos. Para defendê-lo, o cidadão comum elegeu, em 2014, seus representantes.
Eles formam o Congresso Nacional. Nesta semana, o Congresso volta de férias e
paira no ar um paradoxo. Os deputados e senadores escolhidos para representar o
cidadão comum podem piorar enormemente a vida do cidadão comum. É só aprovarem
a “pauta-bomba”, como está sendo chamada uma série de medidas que aumentam
gastos do governo – numa época em que, como os números mostram, qualquer
pequeno aumento que desequilibre a economia pode ser fatal para nossas vidas.
Em momentos assim, em que a vida cotidiana dos cidadãos está
nas mãos dos representantes que elegeram, tais representantes costumam ser
chamados à razão. Foi o que ocorreu em outras épocas históricas, em que
políticos esqueceram momentaneamente suas divergências para se unir em torno de
uma agenda comum. Num primeiro momento, tal agenda é simples. Basta evitar a
criação de novos gastos, como aumentos para o Judiciário ou nas aposentadorias.
Isso nos ajudará a atravessar este momento difícil. Mas, no médio prazo, não
será suficiente. Como mostra o economista Samuel Pessoa, os problemas na
economia brasileira vêm de longe e são mais complexos do que parecem num
primeiro momento. Para resolvê-los, será necessário um pacto ainda mais
profundo.
A presidente Dilma Rousseff tem condições de liderar esse
pacto? Dilma dedicou sua semana a reuniões com governadores e com seus
auxiliares diretos. Enquanto ela preferir relacionar o caos econômico às
investigações da Lava Jato em vez de cortar despesas seriamente, as
dificuldades continuarão. Para que qualquer pacto dê certo é preciso, antes,
reconhecer os erros. Dilma fez isso, num primeiro momento, ao abandonar a
política econômica equivocada do primeiro mandato e nomear Joaquim Levy, o que
representa uma grande correção de rumo. Ainda é pouco. Ela precisa fazer gestos
concretos que ajudem a cicatrizar feridas de campanha. Precisa também apoiar
seu ministro da Fazenda incondicionalmente, e demonstrar isso de maneira clara.
Só assim o cidadão comum – nós – poderá escapar de anos de sacrifícios
impingidos pelos representantes que, na eleição, mereceram sua confiança.
Leia mais sobre a "pauta-bomba" em ÉPOCA desta
semana.
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