Da Veja
As análises econômicas mais realistas e desapaixonadas
indicavam, fazia algum tempo, que a crise na economia brasileira era um acidente
prestes a acontecer. Por seis anos seguidos, o governo pisou fundo demais no
acelerador dos gastos públicos e aliviou o pé no freio do controle da inflação.
Em pouco tempo, arruinou a confiança construída em duas décadas de ajustes e
reformas - sem falar nas manobras na contabilidade federal. Ao assumir o
Ministério da Fazenda, Joaquim Levy apresentou um plano para evitar o desastre,
como o personagem do filme Juventude Transviada que escapa da morte ao saltar
do carro momentos antes da queda no desfiladeiro.
Por alguns meses, parecia que Levy seria bem-sucedido. O
ministro procurou extinguir os trambiques do antecessor e propôs uma série de
medidas para reforçar o caixa do governo e impedir um rombo ainda maior nas
finanças públicas. A iniciativa seria um primeiro passo para arrumar a casa e
retomar os projetos de longo prazo para incentivar o crescimento econômico. O
clima político hostil, entretanto, atrapalhou os planos do ministro. Quanto
mais frágil a situação da presidente Dilma Rousseff e maior o envolvimento de
políticos da base aliada nas revelações da Lava-Jato, menor a disposição do
Congresso para aprovar ajustes impopulares. O tempo sobre a economia brasileira
já estava fechado. Agora, o país está sob a ameaça de lidar com uma verdadeira
tempestade perfeita.
O Brasil não é tão vulnerável como no passado, mas entrou
avariado na trovoada. O povo brasileiro já percebeu, em seu dia a dia, o
aumento no custo de vida, a dificuldade para quitar dívidas, o desemprego de
pessoas conhecidas. O pior, entretanto, está por vir. Principalmente se as
medidas de austeridade nas contas do governo não forem aprovadas. Na semana
passada, a agência americana de classificação de risco Standard & Poor's
reduziu para negativa a avaliação do país. Existe agora uma probabilidade
elevada de rebaixamento da nota do Brasil, possivelmente no próximo ano. Se
assim for, o país perderá, na avaliação da S&P, o status de grau de
investimento. E o que isso significa? A economia deixará de ter acesso ao
crédito farto e barato dos mercados internacionais. Os maiores fundos de pensão
estrangeiros restringem a aplicação em países sem o grau de investimento. Em
vez de ficar mais próximo de países como os Estados Unidos, a Alemanha ou o
Chile, o Brasil seria rebaixado para o grupo de caloteiros contumazes, que
inclui a Grécia, a Argentina e a Venezuela.
Não é apenas o governo que é afetado. As empresas
brasileiras também serão vistas como investimentos especulativos. Ao pôr a nota
do país em perspectiva negativa, a agência fez o mesmo para 41 empresas locais.
Entre elas figuram companhias que, a despeito do cenário econômico adverso,
estão entregando bons resultados e não têm dependência direta do Estado, como
Ambev e NET. Isso acontece porque a nota de crédito do país é o teto de classificação
das empresas. Raramente uma empresa pode ter nota melhor do que o país no qual
ela opera, porque sempre existe o risco de ser afetada por alguma restrição na
transferência de pagamentos.
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desta semana de VEJA.
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