Por Dora Kramer, colunista de O Estado de S.Paulo
Na campanha pela reeleição a presidente Dilma Rousseff
dizia-se “estarrecida” diante de qualquer fato ou ato para o qual não tivesse
resposta. Na entrevista dada na segunda-feira aos jornais de circulação
nacional, Dilma trocou o estarrecimento pelo susto para se justificar sem, no
entanto, se explicar.
Disse que foi surpreendida tanto pelo tamanho da crise
econômica quanto pela dimensão do esquema de corrupção na Petrobrás e, assim,
considerou-se em dia com explicações devidas sobre fatos ocorridos e atos
cometidos em seu governo.
Muito mais que pedidos de desculpas – penitência
objetivamente inútil, pois o caso não é de absolvição de pecados, mas de correção
efetiva – a presidente continua devendo ao País esclarecimentos consistentes
para a origem, e soluções realistas para a saída da crise.
Até agora não fez uma coisa nem outra e as respostas dadas
aos jornalistas indicam que não o fará enquanto a corda, embora bamba, ainda se
sustenta. À crise econômica, Dilma segue atribuindo os motivos a fatores
externos e imprevisíveis, assim como reconhece que continua sem horizonte de
previsibilidade.
Em bom português, isso significa que o governo não tem
planejamento. Atua ao sabor dos ventos, adota o voluntarismo como critério para
tomada de decisões e age quando já é tarde. Foi o que disse a chefe da Nação
que preferiu adotar a pregação do otimismo à deriva quando ouvia de todos os
lados alertas sobre a gravidade da situação do País, moral, política, econômica
e administrativamente falando.
Os realistas, a cuja análise do cenário o Planalto foi
obrigado a se render, eram, na concepção palaciana, pessimistas a serviço da
tese do “quanto pior, melhor”. Mesmo quando integrantes do governo. Em 2013, o
então presidente da Câmara de Políticas de Gestão ligada à Presidência, Jorge
Gerdau, alertou para a impossibilidade de o País ser administrado numa
estrutura assentada em 39 ministérios.
“Quando a burrice, a loucura ou a irresponsabilidade vão
muito longe, de repente sai um saneamento. Provavelmente estamos no limite
desse período.” Vaticínio certeiro. Desprezado, contudo. Gerdau não foi ouvido.
Deixou a função na Câmara de Gestão – da qual, aliás, não se viu a produção de
um alfinete – e tornou-se um adepto da candidatura presidencial de oposição em
2014.
Agora, dois anos depois, premida pelas circunstâncias, a
presidente anuncia a redução do número de ministérios. Não diz, no entanto,
como será feita a dita “reforma administrativa”, não explicita quais serão as
pastas atingidas e, sobretudo, não explica as razões pelas quais o governo Lula
criou oito ministérios ao tomar posse em 2003, acrescidas de outras cinco na
gestão atual.
A motivação, sabemos: necessidade de acomodar afilhados
(petistas ou não) na máquina pública, uma vez que a opção do governo foi atuar
a partir do manejo orçamentário no lugar do convencimento programático.
O caminho supostamente mais fácil acabou se revelando mais
“custoso”. Custou a autoridade moral do PT e levou junto a boa imagem do
partido junto à sociedade. Quando o governo se dispõe a reduzir ministérios e a
quantidade de gente nomeada em cargos de comissão, emerge como inevitável a
dúvida: o que vai prevalecer, o conceito político ou os ditames administrativos
de eficiência?
A presidente não disse. Mais uma vez infringindo a regra
política da eficácia, segundo a qual a decisão só é anunciada depois de a
combinação acertada. A inversão da norma – anunciar e combinar depois – pode
criar mais problemas e atritos em campo onde se pretendiam construir consensos
e soluções. Em resumo, falta ao governo fio terra.
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