Dilma Rousseff comandou várias negociações políticas nos
últimos dias para montar um novo ministério e fortalecer-se contra tentativas
de impeachment. Conseguiu até uma vitória no Congresso como há tempos não
obtinha, ao manter vetos de leis polêmicas. Mas se a presidenta tem motivos
para arriscar suspiros de alívio, o mesmo não vale para o PT. Ou para todo o
PT.
Há semanas é possível ouvir, em conversas ao pé do ouvido,
lamúrios petistas sobre o futuro do governo e o fardo de estar no Palácio do
Planalto hoje em dia. Um deles resolveu desabafar abertamente. “Para salvar o
governo, a única solução é piorar o governo. Seria melhor ter perdido a
eleição”, disse a Carta Capital Jorge Viana (AC), vice-presidente do Senado.
O pessimismo de certos petistas nasce de um drama
existencial.
Distante da base social lulista inconformada com o ajuste
fiscal, explica um ex-colaborador de Dilma e do ex-presidente Lula, a
mandatária só tem uma saída para contornar sua fragilidade política: ceder aos
conservadores. É direita, volver.
Não seria melhor, então, estar na oposição a uma gestão
Aécio Neves (PSDB-MG), a atacar o ajuste fiscal que ele certamente faria e a
ver o tucano enrolar-se com parlamentares metidos na Operação Lava Jato e hoje
aliados ao PT mas que, governistas por vocação, estariam na base de apoio do
PSDB?
Ao menos, haveria perspectiva de futuro para o partido, algo
inexistente hoje, pensam vários petistas.
Um exemplo de concessão dilmista aos setores conservadores.
No início do mês, uma portaria do Ministério da Educação criou um Comitê de
Gênero para propor ideias para enfrentar o preconceito a partir da educação. Na
segunda-feira 21, o recuo.
O comitê agora será de Combate à Desigualdade, definição sem
o mesmo poder simbólico. O passo atrás foi dado após o governo negociar uma
trégua anti-impeachment com dois expoentes da bancada evangélica, os deputados
Marco Feliciano, do PSC, e João Campos, do PSDB.
Em nota oficial, deputados do PT ligados aos temas educação
e mulheres manifestaram “inconformismo” com o recuo. “Desmanchar a luta pela
igualdade de gênero no contexto das outras desigualdades é, na prática, ceder
aos setores mais conservadores da sociedade”, diz o texto.
Outra seara de “concessões” de Dilma é a reforma
ministerial. Ela aceita acabar com três pastas da área social e juntar tudo
numa só, encabeçada pela Secretaria Geral da Presidência, que passaria a ter
outro nome, Ministério da Cidadania. Desapareceriam as pastas dos Direitos
Humanos, da Igualdade Racial e das Políticas para as Mulheres.
Após passar o primeiro mandato a resistir às pressões
fisiológicas do PMDB, agora Dilma topa dar ao partido o Ministério da Saúde, um
orçamento de 100 bilhões de reais por ano. Um dos favoritos para o cargo é o
deputado Manoel Junior, da Paraíba. Que vem a ser uma espécie de laranja do
presidente da Câmara, Eduardo Cunha, desafeto de Dilma.
A contrariedade no PT com Dilma é tamanha que o líder do
partido na Câmara, Sibá Machado, um acreano como Jorge Viana, defendeu que, na
reforma ministerial, deveriam ser demitidos Joaquim Levy (Fazenda), Aloizio
Mercadante (Casa Civil) e José Eduardo Cardozo (Justiça). Disse isso em reunião
com outras lideranças partidárias na quarta-feira 23.
Em meio à gélida relação com seu próprio partido, Dilma
Rousseff tem se aproximado de uma outra sigla de esquerda de sua base aliada.
Na segunda-feira 21, recebeu dirigentes e parlamentares do PCdoB em jantar no
Palácio da Alvorada.
Um dos presentes contou a CartaCapital que Dilma ouviu a
sugestão de trocar Levy e Mercadante. Reação dela, de acordo com este relato:
impassível sobre o caso do ministro da Fazenda, mas não tão assertiva em
relação ao chefe da Casa Civil.
É do PCdoB, aliás, um dos mais aguerridos parlamentares
anti-impeachment. O ex-ministro dos Esportes e deputado Orlando Silva, um dos
vice-líderes do governo na Câmara e ex-presidente da União Nacional dos
Estudantes (UNE), não perde a chance de enfrentar os defensores do “Fora
Dilma”.
Quando o líder do DEM, Mendonça Filho, pressionava Cunha
dias atrás para se pronunciar sobre o tratamento a ser dado aos pedidos de
cassação da presidenta, Silva chamou a frente parlamentar do impeachment de “um
bando de provocadores” e o DEM, de “golpista” e “legítimo herdeiro da Arena”, o
partido da ditadura militar.
Em agosto, em bate-boca com outro deputado demista, Rodrigo
Maia, Silva havia disparado: “Se a oposição quiser fazer guerra política, vai
haver guerra política. Se quiser fazer enfrentamento, vai haver enfrentamento.”
Na Câmara, Silva tem dito ser preciso matar no nascedouro
qualquer pedido de impeachment. Não permitir sequer que seja instalada uma
comissão especial para examinar o assunto.
Para isso, não basta reunir só 171 deputados, quórum capaz
de barrar no plenário a abertura de um processo de cassação, ao final dos
trabalhos da comissão especial. Seria necessário ter o apoio imediato de 257
deputados, metade do total de 513, para evitar até mesmo a criação da comissão.
É esse o objetivo de Dilma Rousseff na reforma ministerial.
Montar uma tropa que barre a instalação da comissão especial. Nem que para isso
tenha de sacrificar o PT, ao tirar espaço do partido para entregar a outro
aliado.
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