Sem mencionar o PT uma única vez, o ministro da Fazenda,
Joaquim Levy, apontou dois dos maiores estragos causados pela política petista
como os principais entraves à retomada do crescimento. Primeiro ponto: todos os
demais problemas só serão resolvidos quando se avançar no conserto das contas
públicas, hoje a principal fonte de incertezas. Segundo: para conduzir o País a
uma nova etapa de crescimento seguro será preciso cuidar da capacidade de
oferta, isto é, do potencial de produção. Sem isso, qualquer esforço de
reanimação da economia será interrompido quando a demanda bater no muro da
oferta e a colisão gerar mais inflação e novos desequilíbrios. O problema do
Brasil é a capacidade de oferta. Não é a demanda, insistiu, numa clara negação
de um dos pilares do chamado “modelo” consolidado no segundo mandato do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva e mantido teimosamente nos primeiros
quatro anos da presidente Dilma Rousseff. Levy discursou ontem na premiação das
Empresas Mais, uma classificação elaborada pelo Estado.
A política de ajuste apresentada pelo governo é mera
imposição da realidade, sustentou o ministro quase no fim de sua exposição.
Pode-se discutir se o cardápio de medidas proposto pelo governo é o mais
adequado, menos custoso e mais equilibrado na composição. Pode-se debater, por
exemplo, a conveniência de recriar o imposto do cheque, a CPMF. Mesmo com prazo
de vigência, nada garante sua extinção em dois ou quatro anos, especialmente se
os governos estaduais tiverem acesso a uma parte do dinheiro. Pode-se criticar
o alcance das medidas programadas para a obtenção do resultado fiscal
pretendido para 2016. Mas a precedência do ajuste fiscal, como condição
indispensável a todo o resto, é indiscutível.
Não haverá controle da inflação sem melhora financeira do
setor público, nem será possível baixar os juros sem risco de maior desarranjo
nos preços. O voluntarismo na política monetária foi mais uma vez testado entre
2011 e 2013. O resultado foi aquele previsto por qualquer pessoa sensata. As
pressões inflacionárias manifestaram-se mais livremente, os preços dispararam e
a insegurança cresceu.
A reparação desse erro impôs um enorme aperto na política de
juros, com efeitos muito ruins sobre a atividade econômica e sobre a evolução
da dívida pública.
Seria uma enorme tolice repetir esse teste, mas parte dos
críticos da política, incluídos, naturalmente, os petistas e seus aliados,
insiste nesse ponto, como se eles fossem impermeáveis à experiência.
Mesmo sem citar esses críticos, o ministro foi claro em seu
recado. Não haverá, insistiu, redução de juros antes de avanço na política
anti-inflacionária e – como condição – no conserto das contas públicas.
Mas a arrumação fiscal, advertiu, envolve a liquidação de
atrasos e, portanto, a realização de gastos postergados. “Nós estamos pagando
mais de R$ 20 bilhões em subsídios de 2012, 2013... No ano passado só foram
pagos R$ 4 bilhões.” O governo, explicou, está pondo a casa em ordem, pagando
coisas do passado – como despesas do Programa de Sustentação do Investimento e
do apoio à agricultura. Traduzindo: além da gastança e do uso irresponsável de
recursos do Tesouro, houve a acumulação de compromissos pendurados. O ministro
poderia ter apontado um interessante e instrutivo paralelo entre as contas
públicas e a inflação. Para ajustar a parte fiscal é preciso, inicialmente, dar
um jeito nos esqueletos deixados pela administração anterior. Isso exige
despesas. Da mesma forma, o combate à inflação é ainda dificultado, nesta
altura, pela alta dos preços politicamente represados numa fase anterior – como
os da eletricidade.
Retomar a política do famigerado modelo, como cobram os
companheiros da presidente, é reeditar toda essa esbórnia. Para contornar esse
risco, o governo tem de vencer pressões de seu partido, de parte do
empresariado e de grande parte dos congressistas. Cada aumento do dólar e cada
susto dos investidores e credores são um reflexo dessa insegurança.
Nenhum comentário:
Postar um comentário