Da Veja
Quando conquistou a Presidência, Dilma Rousseff fixou como
meta recuperar para as mãos do Estado pedaços da máquina pública que estavam
sob o controle de ruidosas engrenagens partidárias. De forte apelo popular,
essa estratégia de enfrentamento do fisiologismo começou a sair do papel em
grande estilo. Ao montar sua equipe, em 2011, ela demitiu o PMDB do comando da
Saúde, que tem o maior orçamento da Esplanada dos Ministérios. A gerentona,
valente e inabalável diante de pressões políticas,
punha o maior partido do país em seu devido lugar. Tudo em nome do interesse
nacional. Tudo ressaltado pela propaganda oficial. Em boa parte de seu primeiro
mandato, Dilma exerceu o poder na plenitude. Chegou a sobrepor suas vontades às
de próceres petistas em temas caros ao partido, chegou a bater recorde de
popularidade. Eram tempos de gloria para ela. Tempos que não voltam mais. Na semana
passada, a presidente – aprovada por apenas 10% da população, sem apoio
parlamentar e ameaçada de impeachment – aceitou transferir a tarefa de governar
a nomes escolhidos por Lula e caciques do PMDB.
Em troca de ajuda para completar seu segundo mandato, ela
renunciou de fato e passou a batuta ao antecessor. Depois de meses de pressão,
o criador, enfim, dobrou a criatura – e o terceiro mandato de Lula começou. A rendição
foi consumada por meio de uma reforma administrativa que reduziu de 39 para 31
o número de ministérios, extinguiu 3000 cargos comissionados e prometeu
economia com despesas de varejo, como diárias e passagens. Dilma tirou do
Palácio do Planalto pessoas que eram de sua estrita confiança e formavam o coração
de seu governo. Para substituí-las, escalou quadros leais a Lula. Seguindo recomendação
do ex-presidente, ela também aumentou o número de ministérios controlados pelo
PMDB, que recebeu de volta a pasta da Saúde, aquela que, de acordo com a Dilma
destemida de 2011, jamais voltaria ao balcão de negócios montado pelo
presidente de turno para comprar apoio no Congresso. “Os governos de coalizão,
como é o caso do meu e de todos os governos depois da democratização, precisam
de apoio no Congresso. Nós vivemos em uma democracia e temos de dialogar com o
Congresso eleito pelo povo em favor da população”, disse Dilma, convertida de
novo ao pragmatismo sem limites.
A principal mudança realizada ocorreu na Casa Civil, com a saída
de Aloizio Mercadante, que foi remanejado para a Educação, e a entrada de
Jaques Wagner. Lula nunca gostou de Mercadante. Além de não esconder seu
desapreço pessoal por ele, passou a responsabilizá-lo por quase tudo o que
considera errado no governo, do bate-cabeça na condução da economia à demora da
presidente em participar dos esforços destinados a barra o avanço das investigações
da Operação Lava-Jato. O PMDB também fustigava Mercadante, acusando-o de
atrapalhar a relação do Executivo com o
Legislativo e de sabotar a atuação do vice-presidente Michel Temer quando este
coordenava a articulação política. Numa conversa recente, Temer perguntou a
Dilma por que ela não substituía Mercadante. “Porque o Jaques Wagner ligará
para o Lula de cinco em cinco minutos.” O temor da presidente era claro. Nada que
impedisse sua capitulação. A contragosto, Dilma transferiu Miguel Rossetto da
Secretaria-Geral da Presidência, que foi extinta, para o Ministério do Trabalho
e, agora, também da Previdência Social.
Lei a reportagem na íntegra na edição desta semana da revista Veja.
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