Dilma Rousseff conseguiu surpreender mesmo seus seguidores ao colocar o Ministério da Saúde sobre o balcão de negócios. A extravagante solução, ao que consta, teria sido dada por Lula durante uma de suas passagens pelo Palácio da Alvorada. Faz sentido. Ninguém conhece a tabela das lealdades políticas como ele.
Como anotou a professora Ligia Bahia em um brilhante artigo
publicado em O Globo, a importância da saúde na vida das pessoas e da sociedade
foi ignorada. Mesmo encabeçando qualquer lista de prioridades dos cidadãos, a
saúde vale agora é pelo cargo de ministro, com seu orçamento, suas nomeações e
contratos.
Dois pontos merecem atenção. Primeiro, a frieza com que o
governo se desvencilhou da pasta, em nome de um respiro de governabilidade, dá
a exata medida do que restou da liderança de Dilma. Segundo, o leilão do
Ministério da Saúde confirma a falácia do discurso da "marca social"
dos governos petistas.
Em seu artigo, a professora Ligia Bahia lembra que o único
traço de continuidade das políticas de saúde desde a redemocratização tem sido
o SUS. Colocar o Sistema Único de Saúde à mercê das redes de clientelismo e de
conveniência política não é só um profundo retrocesso. É uma usurpação de
direitos do cidadão.
O descompromisso político do governo com as áreas sociais
mais sensíveis não se resume à saúde. Por exemplo, a Educação. Há meses lembrei
aqui do discurso de posse do então novo ministro da Educação, Aloizio
Mercadante. Na ocasião, ele disse que o ministério era a missão de vida, sonho
de todo gestor, o maior desafio da carreira.
Aloizio Mercadante não esquentou a cadeira. Trocou a missão
da vida pela Casa Civil. Em cinco anos, Dilma já teve seis ministros da
Educação. O atual, aliás, dizem estar por um fio -- também em nome do cassino
dos apoios. O maior deficit da "Pátria Educadora" é o de prioridade.
Os cortes nos programas são só sua face visível.
Fechando a trinca, o que dizer da segurança pública? Contam
os palacianos que Dilma, em ríspida conversa com o ministro da Justiça,
engavetou ações de segurança, pois não seria da conta dela, mas sim dos
estados. Desde então, o ministro se resume a reclamar das cadeias e a
administrar passivamente a barbaridade de 50 mil assassinatos por ano.
Depois que o Ipea revelou que Dilma inflou o número de
pessoas que saíram da pobreza nos governos do PT em quase cinco vezes, nada
mais deveria nos espantar. Mas espanta. O Ministério da Saúde,
independentemente de quem possa vir a assumi-lo, é daquelas pastas que um estadista
jamais colocaria na roleta. A não ser Dilma.
Via Blog do Noblat, artigo de J osé Aníbal, presidente nacional do Instituto Teotônio
Vilela e senador suplente pelo PSDB-SP. Foi deputado federal e presidente
nacional do PSDB.
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