Da Veja
Oito anos na Presidência da República fizeram de Lula um
mito. Ele escapou ileso do escândalo do mensalão, bateu recorde de
popularidade, consolidou o Brasil como um país de classe média e elegeu uma
quase desconhecida como sua sucessora. Os opositores reconheciam e temiam seu
poder de arregimentação das massas. O líder messiânico, o novo pai dos pobres,
o protagonista do primeiro governo popular da história do Brasil encontra-se
atualmente soterrado por uma montanha de fatos pesados o bastante para fazer
vergar qualquer biografia - até mesmo a de Lula. Investigações sobre corrupção
feitas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público vão consistentemente
chegando mais perto de Lula. Ele próprio é foco direto de uma dessas apurações.
Do seu círculo familiar mais íntimo ao time vasto de correligionários, doadores
de campanha e amigos, o sistema Lula é formado predominantemente por suspeitos,
presos e sentenciados. Todos acusados de receber vantagens indevidas de
esquemas bilionários de corrupção oficial.
O mito está emparedado em verdades. Lula teme ser preso, vê
perigo e conspiradores em toda parte, até no Palácio do Planalto. Chegou
recentemente ao ex-presidente um raciocínio político dividido em duas partes.
A primeira dá conta de que sua derrocada pessoal aplacaria a opinião pública,
esse monstro obstinado, movido por excitação, fraqueza, preconceito, intuição,
notícias e redes sociais. A segunda parte é consequência da primeira. Com a
opinião pública satisfeita depois da punição a Lula, haveria espaço para a criação
de um ambiente mais propício para Dilma Rousseff cumprir seu mandato até o fim.
Nada de novo. A política é feita desse material dúctil inadequado para moldar
alianças inquebrantáveis e fidelidades eternas.
Os sinais negativos para Lula estão por toda parte. Uma
pesquisa do Ibope a ser divulgada nesta semana mostrará que a maioria da
população brasileira condena a influência de Lula sobre Dilma. Some-se a isso o
contingente dos brasileiros que até comemorariam a prisão dele, e o quadro fica
francamente hostil ao ex-presidente. O nome de Lula e os de mais de uma dezena
de pessoas próximas a ele são cada vez mais frequentes em enredos de tráfico de
influência, desvios de verbas públicas e recebimento de propina. Delator do
petrolão, o doleiro Alberto Youssef disse que Lula e Dilma sabiam da existência
do maior esquema de corrupção da história do país. Dono da construtora UTC, o
empresário Ricardo Pessoa declarou às autoridades que doou dinheiro surrupiado
da Petrobras à campanha de Lula à reeleição, em 2006. O lobista Fernando Baiano
afirmou que repassou 2 milhões de reais do petrolão ao pecuarista José Carlos
Bumlai, amigo de Lula e tutor dos negócios dos filhos do petista. Baiano contou
aos procuradores que, segundo Bumlai, a propina era para uma nora do ex-presidente.
A relação de nomes é conhecida, extensa e plural - dela faz parte até uma amiga
íntima de Lula. A novidade agora é que a lista foi reforçada por um novo
personagem. Não um personagem qualquer, mas Luís Cláudio da Silva, um dos
filhos do ex-presidente. O cerco está se fechando.
Com reportagem de Hugo Marques e Pieter Zalis, leia na
íntegra a reportagem de Veja que já está nas bancas.
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