Peço emprestado a Marcelo Rubens Paiva o título, perfeito
para definir o ano que se inicia depois de amanhã. Poderia até ensejar
otimismo, considerando a produção de tantas e tão más notícias em 2015. Em
tese, 2016 ofereceria ao Brasil a única opção de melhorar.
O ano novo, no entanto, nasce velho. A começar pela
repetição da cantilena oca de um governo cujo encerramento do ano é pautado
pelo canto de vitórias que nada projetam além da coleção de novas derrotas.
A reunião do ministro Nelson Barbosa com os governadores
chamados a Brasília para discutir uma agenda de superação da crise econômica
foi um exemplo da distância entre as intenções e os gestos. Ninguém esteve ali
para “unir esforços”, muito menos para montar uma impossível “agenda conjunta”.
Se conjugação há, é a de carências mútuas.
Os objetivos são divergentes, quando não excludentes. Os
governadores querem do governo federal socorro financeiro e o governo federal
quer dos governadores apoio político, sendo que nenhuma das duas partes está em
condições de atender a essas demandas.
A União mal se sustenta nas próprias pernas. Enfrenta
recessão, inflação, perda de grau de investimento, queda na arrecadação,
necessidade imperativa de cortar gastos, uma dívida das “pedaladas” a ser
quitada e toda sorte de dificuldades decorrentes do modo de pensar e de agir
dos mesmos que agora prometem “com o tempo dar um jeito”, para usar palavras do
ministro da Fazenda.
Nelson Barbosa, aliás, não parece ter entrado na reunião
realmente disposto a discutir soluções, vez que diante dos pedidos lembrou aos
governadores que estava no comando da Fazenda “há apenas sete dias”. Qual,
então, a finalidade do encontro? Produzir uma foto e criar um factoide a fim de
simular um apoio político que o Planalto não tem nem poderá obter dos
governadores mergulhados em suas respectivas crises e sem controle sobre as
bancadas no Congresso.
Não podem mudar a posição de parlamentares dispostos a
apoiar o impeachment nem podem convencer o Parlamento a aprovar a CPMF ou
tornar exequível a aprovação da reforma da Previdência. Muito menos em ano de
eleição. A mensagem de fim de ano do PT, veiculada no início da semana, é prova
disso quando prega uma mudança na política econômica defendendo o impossível na
atual conjuntura: expansão de crédito, criação de empregos, juros baixos,
investimentos do BNDES.
Com isso o partido está tentando criar uma rede de proteção
junto ao eleitorado, a fim de reduzir os danos previstos nas eleições de
prefeitos e vereadores nas capitais e grandes cidades, onde o voto de opinião
tem peso e o debate tende a se direcionar para temas nacionais. Se for
realmente tentar segurar a peteca desse modo, o PT não apoiará o governo.
Diante disso os outros aliados não encontrarão razões para embarcar no
sacrifício.
O PT pede “ousadia” ao governo de maneira tão ousada quanto
inviável, tentando enquadrar a realidade aos seus desejos. Assim como fez a
presidente Dilma no início do segundo mandato, quando prometeu correções que
não cumpriu. Parte delas dependia do Congresso, mas o Executivo tampouco fez a
sua parte: não reduziu ministérios conforme anunciou, economizou menos de 10%
do que prometeu e deixou a extinção de milhares de cargos em comissão para as
calendas.
Nesse cenário, os ministros da Justiça e da Casa Civil
apresentam suas alegações finais na forma de entrevistas declarando que o
perigo do impeachment passou e que a crise política serenou. Qualquer
semelhança com o sujeito que despenca do 20.º andar e na altura do 12.º avisa que
“até aqui tudo bem” não é mera coincidência.
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