Da Época
Seria o caso de dizer que um terremoto abalou Brasília, não
tivesse essa expressão sido tão usada, e tão apropriadamente, nos últimos meses
– é de estranhar que os palácios da cidade ainda não tenham, metaforicamente,
virado escombros. Os sismos de maior magnitude ocorreram em função da Lava
Jato, das trapalhadas econômicas do governo, que arrastam os brasileiros para
as ruas e para a pobreza, e dos desmandos dos parlamentares do tipo que os
ingleses chamam de “self-serving” – que agem apenas em interesse próprio.
Brasília resistiu. A democracia brasileira resistiu.
Agora, Brasília vibrará no ritmo do impeachment. Trata-se de
um julgamento peculiar, em que a presidente não se submete a um tribunal
tradicional, mas a deputados e senadores eleitos pelo povo e, justamente por
isso, sujeitos à pressão de seus eleitores. Não há dúvidas de que a democracia
brasileira vai resistir. Nossa democracia desenvolveu instituições sólidas,
apesar de ser ainda uma jovem de 30 anos (democracias, como mostram os Estados
Unidos e os países europeus, atingem a maturidade por volta de 100, 150 anos).
Mas e Dilma? Resistirá?
Mais que situação e oposição, o país se divide entre os que
desejam e os que não desejam o impeachment de Dilma – e que exercerão pressão
sobre o Congresso. Entre os que não querem sua queda estão, claro, os
governistas, que desejam continuar no poder. Também grande parte dos
oposicionistas – os que apostam numa vitória fácil em 2018, caso o governo
mantenha o desempenho desastroso que vem tendo até agora, no segundo mandato de
Dilma, com seus baixíssimos índices de popularidade. E também a fatia do setor
produtivo que acredita que um impeachment abalaria ainda mais a confiança dos
investidores em relação ao Brasil.
Entre os que defendem o impeachment estão os oposicionistas
que querem logo assumir o governo, apesar de todos os problemas econômicos e
políticos. A fatia do setor produtivo que acha que a falta de confiança no
Brasil tem nome e sobrenome, Dilma Rousseff – e que a simples saída da
presidente traria os investimentos de volta. E, paradoxalmente, uma fatia do
governo que mantém o olho nas eleições de 2018. Eles acham que o impeachment de
Dilma geraria uma narrativa conveniente para o próximo pleito, na qual o PT
sairia como vítima de uma “conspiração das elites” – e essa narrativa
pavimentaria o caminho de Luiz Inácio Lula da Silva de volta ao Planalto.
O país está dividido, e as paixões aflorarão ao longo das
próximas semanas. Num momento grave como este, o impeachment repousa nas mãos
dos deputados e posteriormente dos senadores, todos supervisionados pelos
ministros do Supremo Tribunal Federal. Que eles passem ao largo dessas paixões
e decidam com serenidade. Manter a serenidade, neste momento, é também a missão
da imprensa. Na edição de ÉPOCA desta semana, a partir da reportagem especial
desta semana, você encontrará informação abundante para entender o momento
histórico que o país vive. Informação que é essencial para formar opinião e
também para melhor monitorar as atitudes dos representantes que – gostemos ou
não deles – elegemos democraticamente. Eles têm nas mãos o destino do país.
Trecho da edição Especial Impeachment de Época desta semana que
já está nas bancas.
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