Com o apoio direto do presidente da Câmara, Eduardo Cunha
(PMDB-RJ) e anuência do vice-presidente da República, Michel Temer, deputados
dos PMDB formalizaram nesta quarta-feira a destituição do líder do partido na
Câmara, Leonardo Picciani (PMDB-RJ), um dos principais parlamentares que
trabalhavam contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff, e elegeram o
mineiro Leonardo Quintão como novo responsável por conduzir a bancada na Casa
Legislativa. Picciani e Quintão tinham um acordo para que um sucedesse o outro
a partir de fevereiro, mas o racha dentro do bloco peemedebista precipitou a
troca de cadeiras.
A operação para destituir Picciani ganhou mais força no fim
da semana passada, quando ele rejeitou abrir espaço para deputados
pró-impeachment na lista que montara para a comissão especial. A chapa oficial
acabou derrotada ontem, por 272 votos a 199, abrindo caminho para que
oposicionistas possam controlar a comissão do impeachment. Cunha e até
ministros do governo Dilma Rousseff já davam como certo que o deputado
fluminense seria derrubado ao longo desta semana.
Quintão foi apresentado publicamente como líder pela ala do
PMDB gaúcho, uma das mais radicais em relação ao governo. Eles buscaram nesta
terça-feira apoio de Temer para lançar Quintão. O vice de Dilma não quis se
envolver na operação, mas também não agiu para impedi-la.
O documento que determina a substituição sumária do líder do
PMDB, protocolado hoje, tem 35 assinaturas de dissidentes do PMDB, a maior
parte diretamente ligados a Eduardo Cunha. Ao todo, a bancada do partido tem 66
deputados: para derrubar ou aclamar um novo líder, é necessária apenas maioria
simples, ou seja, as assinaturas de metade da bancada mais um.
Ao assumir o posto, o novo líder Leonardo Quintão disse
estar aberto a conversas com a presidente Dilma, se for chamado, mas a
disposição do partido é virar as costas para o Palácio do Planalto. "Fui
convidado para trazer a unidade do partido", resumiu. "Vou promover a
unidade do PMDB na Câmara com o PMDB do Senado e com a Executiva
Nacional", disse ele. "Picciani fez uma ligação direta com a
presidente Dilma em uma política que não achamos uma boa política. O PMDB está
dizendo que temos um líder para assumir a presidência, um homem preparado para
reunificar o país", completou o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS).
A escolha de Leonardo Quintão se dá em cumprimento a um
acordo selado pelo próprio Picciani no começo do ano. Ele contou com os votos
da bancada mineira da sigla para eleger-se e, em troca, ofereceu apoio ao
colega na eleição para a liderança no ano que vem - Quintão já era, portanto, o
nome na fila para o lugar de Picciani. O deputado fluminense, contudo,
planejava reeleger-se em 2016.
Leonardo Picciani se aproximou do Palácio do Planalto nas
negociações da última reforma ministerial, quando conseguiu emplacar Marcelo
Castro na pasta da Saúde e Celso Pansera na Ciência e Tecnologia. Depois de
obter uma lista de nomes na bancada, ele se reuniu com Dilma para definir os
ministros. O peemedebista rompeu com o presidente da Câmara dos Deputados,
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e, diante do enfraquecimento do correligionário,
alvejado por denúncias de corrupção, buscava a reeleição para liderança da
sigla e almejava ocupar a própria presidência da Casa. Na tentativa desesperada
do Palácio do Planalto de angariar mais apoios do PMDB no Congresso, a
Secretaria de Aviação Civil (SAC) foi oferecida para diversos deputados da
bancada, inclusive para o próprio Leonardo Quintão, que recusou a oferta.
Agora ex-líder do PMDB, o deputado fluminense foi eleito
este ano para a liderança da bancada com apenas um voto de diferença para Lúcio
Vieira Lima (BA) e sempre esteve longe de ser unanimidade na sigla. Vieira Lima
é hoje um dos principais defensores no PMDB do impeachment da presidente Dilma.
Setores do partido criticavam Picciani por defender os interesses do PMDB do
Rio em detrimento aos da banca - o que acentuou as divisões na legenda e
contribuiu para isolá-lo. Picciani, contudo, tratava a coleta de assinaturas
para tirá-lo do cargo como um 'blefe' e imaginava que o movimento não reuniria
mais de 20 nomes. O deputado pode ser recolocado no cargo se conseguir o número
de assinaturas necessárias. Por isso, tenta articular agora a reversão desse
processo.
Da Veja
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