Há quem diga que o maior problema do PT é o governo que
reelegeu em outubro de 2014. Não é mais. Os petistas já desistiram de Dilma
Rousseff. Mantêm as aparências, até porque ninguém lá quer abrir mão das
boquinhas conquistadas. Mas o PT deixou de ser o partido do governo a partir do
instante em que recusou apoio a medidas consideradas essenciais pelo Planalto
para enfrentar a crise econômica. A conclusão do processo de ajuste fiscal e a
reforma da Previdência são dois exemplos relevantes.
Ao deixar Dilma ao relento, o PT contava com o bônus Lula.
Mas o bônus virou ônus. Hoje, o PT é obrigado a carregar o peso político e
moral em que se transformou o seu principal líder: Luiz Inácio Lula da Silva. A
concretização daquilo que todo mundo sempre soube que mais cedo ou mais tarde
aconteceria – o envolvimento cada vez maior e mais profundo de Lula nas
investigações de corrupção – obriga o PT a defender o seu cacique a qualquer
custo. O articulador formal dessa ingrata missão é um pau-mandado de Lula, o
presidente nacional do PT, Rui Falcão. Na segunda-feira passada, ele divulgou
uma das peças fundamentais de sua estratégia no site “Agência PT de Notícias”.
O texto é uma impressionante peça de ficção que começa
fazendo aquilo em que o PT é insuperável: atacar. Escreve Rui Falcão: “Nunca
antes neste país um ex-presidente da República foi tão caluniado, difamado,
injuriado como o companheiro Lula. Inconformado com sua aprovação inédita ao
deixar o governo, o consórcio entre a oposição reacionária, a mídia
monopolizada e setores do aparelho de Estado capturados pela direita quer
convertê-lo em vilão”.
Lula deixou o governo com uma aprovação inédita, há mais de
cinco anos. Desde então, seu prestígio despencou, junto com o de Dilma e o do
PT, e não foi por culpa da “oposição reacionária”, da “mídia monopolizada” –
seja lá que bobagem se pretenda dizer com isso – ou de “setores do aparelho de
Estado capturados pela direita”. Faltou coragem a Falcão para nomear claramente
os “capturados”: a Polícia Federal, o Ministério Público Federal e setores do
Judiciário, como a 13.ª Vara Criminal Federal, do juiz Sergio Moro.
O grande lance de ilusionismo de Falcão, porém, é a
tentativa de apagar da memória dos brasileiros cinco anos de governo Dilma, o
que, por si só, deixa claro que o PT abandonou de vez a soçobrante nau
governista. Agora, aposta no futuro: “O legado de realizações a favor dos mais
pobres, a elevação do Brasil no cenário mundial, os sucessos na educação, na
saúde, nos programas sociais, na área da infraestrutura, em seus oito anos na
Presidência, precisa ser destruído para que Lula não possa retornar em 2018”.
Ora, o “legado de realizações” já está sendo destruído. São
as realizações que, na verdade, Lula herdou, ampliou e aprofundou, só
negligenciando a necessidade de dar-lhes sustentabilidade na área econômica e
institucional por meio de reformas estruturantes do Estado. A destruição desse
legado, de que os indicadores econômicos e sociais dão notícia diariamente, é a
obra-prima de Dilma Rousseff. Não é por outra razão que o PT quer distância
dela.
Se tivesse realmente um mínimo de comprometimento com o
verdadeiro interesse social, o PT teria tido a coragem de apoiar as medidas
impopulares indispensáveis ao saneamento das contas públicas e à criação de
condições para que o governo assuma a responsabilidade não de impor, mas de
coordenar um amplo e eficiente programa de recuperação econômica e retomada do
crescimento.
Mas o PT acha que pode se salvar, como sempre, iludindo os
brasileiros, agora combatendo “a escalada golpista” e o “cerco criminoso ao
Lula”. Este, aliás, está envolvido em novo inquérito policial, de caráter
sigiloso, no âmbito da Operação Lava Jato, a respeito do já famoso sítio em
Atibaia que amigos generosos e desinteressados “disponibilizam” para recreio do
clã Da Silva. O “criminoso” responsável por mais esse ato de “linchamento
político e moral” de Lula, baseado em “denúncias sem provas”, é, claro, o juiz
Sergio Moro.
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