Artigo de Marco Antonio Villa, O Globo
Vivemos uma quadra histórica decisiva. Retirar Dilma
Rousseff do Palácio do Planalto é um imperativo de sobrevivência para o nosso
país. E esta é a hora. Afastar Eduardo Cunha da presidência da Câmara é o
primeiro passo para viabilizar o impeachment. Sua permanência é um elemento que
enfraquece a legitimidade de todo o processo. É absurdo um réu no Supremo
Tribunal Federal conduzir uma ação de moralização da coisa pública. Sem
esquecer que ele desmoraliza também a ação que corre no Tribunal Superior
Eleitoral, que pode anular o pleito de 2014 e convocar novas eleições em 90
dias. Quem assume, neste caso, a Presidência da República? Eduardo Cunha. Diria
Bussunda: “Fala sério!”
Depois de hibernar por um decênio, a oposição acordou. Criou
um comitê pró-impeachment suprapartidário com participação da sociedade civil.
Mobilizou seus parlamentares e as estruturas partidárias. Assumiu o compromisso
de ir — finalmente! — às ruas. E serão as manifestações populares que vão dar a
temperatura para a luta parlamentar. A ponte entre o Parlamento e as ruas é
essencial para o sucesso do impeachment: é a conexão da cidadania com seus
representantes. Daí a importância de cada brasileiro acompanhar como votará o
seu deputado no momento da autorização da abertura do processo do impeachment.
Já o empresariado continua em silêncio. Registre-se a
honrosa exceção da Fiesp, que, em dezembro do ano passado, se manifestou em
defesa do impeachment. As outras federações estaduais ficaram caladas. A CNI
fez cara de paisagem. As entidades vinculadas ao agronegócio, os banqueiros e
representantes do setor terciário da economia, até agora, se omitiram. Isto em
plena recessão de -4% em 2015 e, provavelmente, também em 2016, podendo se
aproximar de -5%. Em meio à depressão, os dirigentes empresariais optaram por
coonestar, através do silêncio, a “macrodelinquência governamental,” tão bem
definida pelo ministro Celso de Mello. Estão descolados de suas bases, pois os
reclamos são diários. Agem como os velhos pelegos, usufruem das benesses dos
sindicatos e das associações — aguardam a solução da crise de braços cruzados e
de costas para seus representados.
O brilhante trabalho da 13ª Vara Federal do Paraná não pode
ser o principal — e quase único — instrumento de moralização da coisa pública.
A Justiça está fazendo o seu papel. Agora cabe aos políticos tomarem a
liderança do processo, rompendo com a inércia e não ficar esperando —
oportunisticamente — o desgaste do governo, pois, assim como o hábito não faz o
monge, a crise, por si só, não levará a queda do petismo.
O governo não governa. Está paralisado — assim como o país.
Dilma Rousseff não tem mais qualquer capacidade permanente de interlocução com
o Congresso e nem com os setores empresariais. Com a sociedade em geral, nem se
fala. É um zumbi. O isolamento é tão patente que inclui o seu próprio partido,
o PT. Seus principais ministros — como o da Fazenda ou da Casa Civil —
desapareceram do noticiário.
A presidente se sustenta no vazio e aprofunda o desastre
econômico. Perdeu a capacidade de governar. Quanto mais cedo sair, melhor para
o Brasil. Não há mais qualquer possibilidade de que possa politicamente se
recuperar. A agonia do PT não pode ser a agonia do Brasil.
Desde já é fundamental construir as condições de
governabilidade, dar previsibilidade ao Brasil pós-PT. Esta é uma tarefa muito
importante. Apesar de ser tão evidente, cabe demonstrar, especialmente aos
agentes econômicos, que a manutenção de Dilma Rousseff à frente da Presidência
da República significa a permanência do caos econômico-financeiro e, mais
ainda, sem perspectiva, a médio prazo, de saída para a crise que vivemos, a
mais grave da história republicana.
A busca de um consenso, abrindo condições para um curto
mandato presidencial, aproxima-se do cenário de 1992, quando da crise que levou
à renúncia de Fernando Collor. Porém, hoje, a conjuntura é mais complexa.
Michel Temer não é Itamar Franco — inclusive, Temer, pode ser cassado pelo TSE.
Projeto pessoais — mais que partidários — obstaculizam a construção de um
governo de transição. A necessidade de que o novo governo adote medidas
econômicas urgentes — e, nem sempre populares — é mais um complicador. O receio
— exagerado — de que o PT na oposição saia fortalecido não passa de uma
falácia. Hoje, o problema central do PT é com a Justiça e não com a política —
e só não teve cancelado o seu registro partidário, como dispõe a lei 9.096/95,
artigo 28, inciso III, porque o TSE é leniente com o crime eleitoral.
A solução política da crise não pode — novamente — frustrar
os brasileiros. É essencial que as instituições efetivamente funcionem. E para
isso a punição dos responsáveis pelo petrolão é fundamental — mesmo que, entre
eles, possa ter um ex-presidente da República. Não é mais possível aceitar uma
conciliação que ignore os valores republicanos, que rasgue a Constituição.
O processo iniciado com a redemocratização, em 1985, está
incompleto. São absolutamente incompatíveis democracia e petrolão. O estado
democrático de direito não pode ser o apanágio dos corruptos, como nos últimos
30 anos. Identificar as mazelas brasileiras é somente um momento neste
movimento. Cabe construir as condições para que a administração da coisa
pública saia do noticiário policial e volte às páginas de política. O primeiro
passo é retirar Dilma Rousseff e o projeto criminoso do poder. E quanto mais
rápido, melhor. Só há um grande interessado em postergar a solução da crise: é
o PT.
Marco Antonio Villa é historiador
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