Do O Povo
A voz embarga, os olhos lacrimejam e o contido murro na mesa
fecha a composição que dá forma ao “drama metafísico” que o deputado federal
Odorico Monteiro diz estar sentindo no momento em que dá fim a uma relação de
36 anos com o Partido dos Trabalhadores. “Estou sendo tangido do PT, tangido”,
disse, ontem à tarde, na sala do seu apartamento em Fortaleza, ao confirmar
para O POVO que está trocando de sigla e ainda amanhã organiza um ato para
oficializar filiação ao Pros.
Odorico Monteiro responsabiliza o colega de bancada José
Guimarães, atual líder do governo Dilma Rousseff na Câmara, por sua decisão de
deixar o PT. Desde quando decidiu candidatar-se a uma vaga de deputado federal,
ele afirma vir sendo alvo de perseguições e retaliações, apesar, garante, de
ter sempre buscado uma forma de entendimento com o parlamentar, reconhecendo-o
como uma das principais lideranças petistas no Ceará. “Várias das pessoas com
as quais conversei nos últimos dias, para comunicar minha decisão, entenderam o
gesto porque sabiam que eu não estava fantasiando, que não era um instinto
paranoico”, diz.
Desde agosto do ano passado que Odorico Monteiro tenta
discutir a situação com o presidente da executiva nacional, Rui Falcão, ainda
buscando uma forma de reduzir e resolver seus incômodos internos. “Até hoje não
tive qualquer resposta, por exemplo, a um pedido de audiência”, reclama,
mostrando-se cansado. Desde a campanha que Guimarães, segundo ele, tenta
impedir sua candidatura. “Até o (Alexandre) Padilha foi procurado para tentar
me convencer a desistir”, afirma, adiantando que sua campanha não recebeu um
centavo do partido. Mais um desabafo: “Já eleito, fui a São Paulo para ver se
conseguia alguma ajuda nacional e só cheguei à recepção. Sequer consegui ser
recebido pelo Falcão”.
Bateu e levou
Acertado com a cúpula nacional do Pros, Odorico Monteiro
adianta que tensionará no novo partido para que ele assuma uma linha de
centro-esquerda. “Mudo de partido, mas não mudo de bandeiras”, afirma, reforçando
a prioridade do mandato à defesa, dentre outros, do movimento social, do
trabalhador rural, negro, à população LGBT e da mulher.
O presidente estadual do PT, Francisco de Assis Diniz, nega
qualquer perseguição ao deputado. “Na verdade, ele gosta de metáforas, gosta de
encenar as coisas”, diz o dirigente, que acusa Odorico de, na verdade, querer
se equiparar a José Guimarães dentro do equilíbrio de forças interno.
Sobre a recusa do presidente nacional Rui Falcão em receber
Odorico Monteiro, De Assis Diniz afirma que foi deliberada. “Ele já sabia que
era uma tentativa de justificar o injustificável, criar uma situação para
anunciar a saída do partido”, diz o dirigente.
O deputado José Guimarães foi procurado pelo O POVO ontem à
noite, através dos seus telefones celulares e o de um assessor, mas não atendeu
às ligações feitas.
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