Da Época
Na tarde da quarta-feira, dia 27, dois executivos do banco
Bradesco esquivaram-se dos gabinetes que simbolizam o poder formal no Congresso
e rumaram ao subsolo do Senado para um encontro com o senador Romero Jucá, do
PMDB de Roraima, protagonista do novo polo do poder real em Brasília. Jucá
sempre foi um contato-chave para o empresariado no Congresso – é ainda mais
agora, como articulador da base de apoio do eventual governo Michel Temer, e
será como provável ministro do Planejamento. O encontro espremeu-se entre o
vaivém de Jucá do Senado ao Palácio do Jaburu, casa do vice-presidente, onde se
desenham os planos e estratégias para o arranque do governo Temer na hipótese
provável de afastamento da presidente Dilma Rousseff.
O mapa do caminho de um governo Temer está pronto. As linhas
gerais incluem reduzir o tamanho do Estado, promover o equilíbrio das contas
públicas e ampliar investimentos por meio de parcerias público-privadas (PPP).
“Mas é preciso ser realista. Não adianta vender terreno na Lua. O mercado não
compra mais esse tipo de tese”, diz Jucá. Não adianta esperar muito. Mesmo que
o governo Temer aconteça e dê resultados, de forma alguma conseguirá livrar o
país do deficit fiscal da ordem de R$ 100 bilhões previsto para este ano.
O governo Temer pode apenas tentar gerar expectativas
positivas. As PPPs, as concessões, a redução da política de conteúdo nacional
nos diversos setores da economia, a maior eficiência das agências reguladoras e
ataques pontuais às ineficiências da Lei de Licitações e à camisa de força da
lei trabalhista são medidas geradoras de expectativas, sinais que Temer quer
dar ao mercado para gerar a confiança de que será capaz de reverter os rumos da
economia.
Para além do mercado, a turma de Temer busca agrados de
apelo mais popular. A ÉPOCA, um assessor afirma que estuda-se tornar públicos
todos os gastos com cartões de crédito corporativo de membros do governo –
ainda são sigilosas, por exemplo, as despesas presidenciais. ÉPOCA teve acesso
também a um documento do grupo de conselheiros que trata de temas sociais.
Temer foi acusado pela presidente Dilma e pelo PT de querer extinguir programas
sociais e agradar ao mercado. Por isso, uma equipe apressou-se a elaborar
propostas.
Na área de educação, a ideia é garantir maior presença do
governo federal na educação básica, com programas de orientação, supervisão e
mais recursos às redes estaduais e municipais e foco na proficiência em
leitura. O mais contundente, porém, é o que fala em uma reformulação completa
do ensino médio, do currículo ao ingresso em cursos de formação profissional,
além do pagamento de adicionais a professores que melhorarem sua formação e o
desempenho dos alunos. Para a saúde, o documento aborda questões como um
incremento nas parcerias público-privadas e uma política de remuneração de
unidades de atendimento de acordo com o desempenho daquela unidade.
Para observar corretamente como se move o pêndulo do poder
em Brasília, e a plausibilidade dos planos de Temer para a economia ou a área
social, basta acompanhar para onde vai o presidente do Senado, Renan Calheiros
(PMDB-AL). Na quarta-feira, dia 27, Renan tomou café da manhã com Geddel
Vieira Lima, futuro secretário de governo de uma possível gestão de Michel
Temer, almoçou no Palácio do Jaburu com o vice-presidente e jantou com Moreira
Franco, um dos conselheiros mais próximos de Temer e candidato a um cargo de
confiança no governo. Nesse intervalo de 24 horas, Renan ainda recebeu uma
rápida visita de Temer em sua residência. Renan não disse em nenhum momento que
apoiará o impeachment da presidente Dilma no Senado. Não é preciso. O PMDB
entende gestos – e Michel Temer, mais do que ninguém, entendeu todos eles.
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