Na mais recente pesquisa do Ibope, Jair Bolsonaro (PSC)
atingiu 11% de potencial de voto para presidente. Dez dias antes, o deputado
registrara 8% de intenções de voto em dois cenários eleitorais no Datafolha. As
pesquisas medem coisas distintas: em uma, se o eleitor votaria ou não no
defensor do golpe de 1964; em outra, se ele prefere Bolsonaro a todos os outros
candidatos testados. Se o Ibope comparou opiniões diferente sobre o mesmo
presidenciável, o Datafolha comparou presidenciáveis entre si.
Apesar das diferenças, os resultados apontam a mesma
tendência: com seu discurso radicalmente conservador, o deputado cativa uma
porção significativa do eleitorado. Não é grande o suficiente para levá-lo a um
segundo turno presidencial, mas é o bastante para garantir-lhe, por exemplo,
vaga em debates nacionais na TV com outros candidatos a presidente. Se isso
vier a acontecer, ele pode crescer mais? Qual é o limite de Bolsonaro?
Os cruzamentos da pesquisa Ibope dão pistas. Primeiro, é
preciso decompor os 11% de potencial de voto de Bolsonaro: 5% são eleitores que
dizem ter certeza de que votariam nele, e os outros 6% afirmam apenas que
poderiam votar. Os graus de certeza fazem diferença. Em uma eleição, o deputado
talvez acabasse com grande parte dos 5% certos, mas não com todos os 6% que
admitem a possibilidade de votar nele. É por isso que Bolsonaro aparece com
entre 6% e 8% no Datafolha, dependendo de quem mais está na disputa. Eleger é
comparar. A lista de candidatos muda tudo.
De volta à pesquisa Ibope, descobre-se que Bolsonaro é o
mais desconhecido entre os sete nomes testados: Lula, Marina Silva, Aécio
Neves, José Serra, Geraldo Alckmin, Ciro Gomes e ele. Mais da metade do
eleitorado, 54%, diz não conhecê-lo o suficiente para opinar – apesar de todas
as polêmicas em que ele se meteu. Se, em uma campanha presidencial com ampla
cobertura de TV, debates e propaganda eleitoral, esse porcentual cair a uma
taxa equivalente à de Marina, 13% ou 14%, como se posicionariam os outros 40%
que passariam a conhecê-lo?
Essa foi a primeira vez que o Ibope mediu o potencial de
voto do presidenciável do PSC. Por isso não é possível saber como seu potencial
se comporta através do tempo. Mas dá para comparar as preferências de
diferentes segmentos sociais e, a partir daí, arriscar uma projeção para o
total.
Bolsonaro é menos desconhecido entre os mais ricos (34%) e
entre quem fez faculdade (37%). São segmentos minoritários e superpostos do
eleitorado – não necessariamente eles antecipam como votarão quem é mais pobre
ou estudou menos. Mas o grau de conhecimento sobre o militar é inversamente
proporcional à renda e à escolaridade: mais pobre e menos escolarizado é o
eleitor, mais desconhecido é Bolsonaro. À medida que cresce o conhecimento,
crescem rejeição e potencial de voto. Mas em que proporção?
Comparando-se as respostas de todas as faixas de renda e
escolaridade, não é absurdo imaginar que 3 de cada 4 eleitores que hoje
desconhecem Bolsonaro passariam a dizer que não votariam nele de jeito nenhum,
e que 1 a cada 4 engrossaria seu potencial de voto. No limite, de um quarto a
um quinto do eleitorado admitiria votar (o que é diferente de preferi-lo aos
demais) em Bolsonaro ao final de uma campanha que o tornasse tão conhecido
quanto Marina é hoje. E sua rejeição chegaria a dois terços dos eleitores,
mesmo patamar em que está a de Lula.
Não dá para Bolsonaro se eleger presidente, mas é o
suficiente para provocar um estrago entre outras candidaturas. Hoje, a maior
superposição de eleitores potenciais de Bolsonaro é com Marina: 36% de quem
votaria com certeza ou poderia votar nele também admite votar nela. E 22% de
quem votaria nela admite votar nele. São eleitores conservadores, evangélicos
ou eleitores que buscam uma novidade? Talvez ambos.
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