Zuenir Ventura, O Globo
Isso os jornais estrangeiros ainda não registraram, eles,
que estão implicando tanto com nossa maneira de torcer, e até de comer: esta
Olimpíada talvez seja a mais liberada que já existiu em termos de
comportamento. Ao contrário do que cantou Tim Maia, vale tudo, inclusive homem
com homem e mulher com mulher. É um grande armário aberto. A Vila Olímpica,
onde os guerreiros descansam seus músculos, é uma festa para os sentidos. Longe
das arenas, seus quase 11 mil moradores, ou exatos 75%, praticam sexo a uma
média de seis exibições por dia, usando as 450 mil camisinhas que foram
distribuídas. É o que Ancelmo Gois chamaria de “Feira livre de saliência”.
Pergunto a alguém que trabalha lá dentro se a estatística é confiável. Ele diz
que não sabe, mas garante, pelo que conversou com colegas de outros países, que
está sendo batido aqui um recorde mundial.
O que mais impressiona, porém, não é o desempenho dos
héteros, mas a naturalidade com que representantes da outra categoria têm
exposto publicamente, sem culpa e hipocrisia, suas opções sexuais. Um exemplo é
a cena em que a jogadora Izzy, de rúgbi, foi pedida em casamento pela namorada,
a voluntária Marjorie, em pleno gramado e com direito a demorado beijo na boca.
Ou então Larissa, do vôlei de praia, correndo para comemorar a vitória beijando
a namorada que assistia à partida. Ou a modelo canadense que veio só para
acompanhar Mayssa, goleira da seleção de handebol e seu declarado grande amor.
Ou o casal Rafaela-Thamara anunciando que ia festejar o ouro na Disney.
Diante de manifestações assim, eu diria que a nossa torcida
pode ser barulhenta e mal-educada, como tem sido acusada (até por gente da
terra dos holligans), mas não tem demonstrado discriminação. Em vez de vaiar,
tem estimulado e aplaudido esses gestos.
Enquanto isso, o tabloide britânico “The Sun”, para reclamar
da pouca presença de público em algumas provas esportivas, afirmou que o “Rio é
uma cidade fantasma”, quando a televisão mostrava multidões em lugares como o
Boulevard Olímpico, com intermináveis filas, e o Parque Olímpico, onde o que
faltava era comida, não gente. A última dessas curiosidades foi a do repórter
do “New York Times” David Segal. Seu paladar acostumado com salsicha e ketchup
estranhou a “falta de gosto e de graça” dos biscoitos de polvilho Globo, que o
coleguinha descobriu ser o “resumo da culinária carioca”, a qual, segundo ele,
nunca foi boa.
Com original bom humor de parte a parte, o pessoal do
programa “Estúdio I” levou o gringo para provar outros “resumos”: galeto,
coração de galinha, sobrecoxa, pão de alho, farofa e queijo coalho. Dessa vez,
ele não reclamou de falta de gosto. Imagina quando experimentar feijoada.
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