Carlos José Marques, ISTOÉ
O Partido foi humilhado nas urnas. Dizimado politicamente.
Transformado em pó pelas mãos de quem deve ter sempre a última palavra sobre os
desígnios da Nação: o povo. O discurso loroteiro de golpe com o qual tentava
iludir os incautos sucumbiu, enterrado por generosas doses de votos na
expressão máxima da democracia.
Aonde o voto impera não há espaço para alegações de golpe,
de conluio das elites ou o que valha. Pura bobagem que a vontade do eleitor,
patrão dos políticos, tratou de demolir conscientemente. O PT ouviu um sonoro
não de cidadãos das mais variadas matizes sociais e regiões do País. Uma
derrota fragorosa, eloquente e sem precedentes.
Talvez tenha percebido, finalmente, e se convencido – como é
aconselhável – que o brasileiro cumpridor de deveres e pagador de impostos
repudia suas práticas corruptas e criminosas. Não aceita mais o palavreado
fácil, sem compromisso com a ética, que busca o poder a qualquer preço. Tem
verdadeira repulsa a promessas falsas, populistas, de melhorias que não
encontram respaldo na realidade. E aplaude a punição exemplar de bandidos.
Ao tomar o Estado por
mais de 13 anos, aliado principalmente a grupos radicais para assaltar os
cofres do Tesouro, o PT migrou da esfera política à policial, levando junto
dirigentes que acabaram por virar réus, presos e condenados. Inclusive seu
líder máximo, o ex-presidente Lula, instaurador do compadrio na máquina
estatal, dos balcões de propina e da promíscua relação de troca de vantagens
com grupos empresariais que recebiam contratos superfaturados e entregavam de
volta gordas comissões para os cofres do Partido.
O PT encheu as burras de dinheiro via caixa dois e, de
quebra, enriqueceu vários de seus representantes – Lula entre eles – enquanto
quebrou o País. 12 milhões de desempregados e seus familiares, num contingente
que se estima chegar a inacreditáveis 50 milhões de pessoas sem renda,
transformaram-se nas maiores vítimas desse descalabro.
Com certeza elas não iriam avalizar a turma que empreendeu
essa marcha de insensatez. Como herança o PT legou um déficit de R$ 170 bilhões
nas contas públicas, uma dívida interna de quase R$ 4 trilhões, companhias
quebradas, recessão e desordem administrativa generalizada. Um desastre
rotundo. A tal ponto que a militância da sigla hoje só encontra ecos remotos e
respaldo nos grupos que se locupletaram com o sistema (MST, CUT e quetais) e na
república sindicalista acostumada a receber subvenções para prestar vassalagem
à causa petista.
O PT tem que se reinventar. Sair atrás de um novo discurso,
novas bandeiras. Recomeçar do zero. Do contrário enfrentará a sina da extinção
inevitável. Lula, que caminha a passos largos para a cadeia, ainda insistia por
esses dias em negar a realidade. Vangloriava-se durante a votação de comandar
“o partido mais popular do Brasil”. Ledo engano. Os números desmentem a bravata
e são devastadores.
O PT desabou no ranking, de terceira maior legenda para uma
desconcertante décima colocação. Está menor que o DEM, antes apontado como em
decadência, e conta com menos da metade das prefeituras do recém-criado PSD. No
rastro da derrocada, perdeu mais de 23 milhões de votos em nível municipal,
quase 400 prefeituras de 2012 para cá e foi praticamente varrido das capitais
brasileiras, restando apenas uma: Rio Branco, no Acre.
O antigo cinturão vermelho do interior paulista foi perdido
para os opositores e, no tradicional reduto de Osasco, o PT não elegeu sequer
um único vereador. O massacre se estendeu por São Bernardo do Campo, Santo
André, Mauá e Guarulhos. Lula não conseguiu emplacar nem mesmo o enteado como
vereador. Nas campanhas em que ele se engajou os candidatos derreteram. O mesmo
acontecendo com a presidente deposta, Dilma Rousseff, que ajudou a afundar as
pretensões de sua escolhida, Jandira Feghali, no Rio de Janeiro.
Como bem apontou o histórico quadro da agremiação, o
ex-governador petista, Olívio Dutra, “O PT tem de levar lambada forte mesmo”
depois de tudo o que fez. No topo dos vexames, o até aqui prefeito paulistano,
Fernando Haddad, encarou uma acachapante surra do tucano, estreante na disputa,
João Doria, eleito no primeiro turno ao próximo mandato.
Algo que nunca aconteceu desde a instituição do mecanismo de
dois turnos. Haddad fez menos de 17% dos votos, no pior desempenho petista em
São Paulo em mais de 30 anos. A ruína do Partido foi consagrada nas urnas e a
melhor saída começaria por um pedido de desculpas pelos erros.
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