RIO — Livro com pensamentos do bispo Edir Macedo organizado
por Marcelo Crivella e por Carlos Rodrigues (na época, também bispo da Igreja
Universal do Reino de Deus), afirma que a Igreja Católica é “a maior praga do
Terceiro Mundo”. A obra também prega que a “mulher de Deus” deve cuidar do lar
e da família e ressalta a importância do dízimo, das ofertas e do sacrifício.
Lançado em 1997 e reeditado até, pelo menos, 2001 (ano de
sua terceira tiragem), “501 pensamentos do Bispo Macedo” afirma que o Brasil
“só deixará de ser subdesenvolvido quando abandonar a idolatria imposta pelo
clero romano”. Macedo chega a classificar de “estúpidos” aqueles que invocam
“deuses de pau, de pedra ou de metal”. O comentário está relacionado ao que
classifica de “idolatria”, a veneração de imagens por católicos e fieis de
outras religiões: “O povo pode chegar à Igreja Universal e não receber uma
resposta imediata; duas coisas, porém, perceberá logo: Que não somos estúpidos
de invocarmos deuses de pau, de pedra ou de metal (...)”.
O livro define a função da “esposa do homem de Deus”. “O
ministério da mulher de Deus é cuidar do marido, dos filhos e da casa, como se
estivesse servindo ao Senhor”; “Não basta que ela seja de Deus e batizada com o
Espírito Santo; é preciso que seja compatível com o marido, com o mesmo
objetivo, sendo submissa, cumpridora de deveres como mulher, mãe e dona de
casa”.
Sem a mesma ênfase, também critica protestantes ao citar a
atuação de missionários “de igrejas irmãs”. Diz que, sem menosprezo, seus 150
anos de trabalho “não produziram grande coisa”.
Dos 501 pensamentos selecionados pelo hoje senador Crivella
(PRB) e Rodrigues, 64 são dedicados às contribuições que devem ser feitas à
igreja, chamadas de sacrifícios, dízimos e ofertas. Macedo faz uma ligação
direta entre essas colaborações e as graças que serão alcançadas: “Ser
dizimista é ser sócio de Deus”; “O ditado popular de que ‘promessa é dívida’ se
aplica também a Deus” ; “O sacrifício pode custar caro, mas garante a vitória.”
Para Macedo, tudo na vida tem o seu preço, “até a salvação o
tem, que é a renúncia da própria vontade em função da vontade de Deus”. O
fundador da Igreja Universal afirma que, entre todos os símbolos, “a oferta é o
que melhor simboliza o Senhor Jesus, pois Ele é a Oferta de Deus para a
humanidade”. O livro diz que a maioria dos cristãos vive nos limites da
miséria, “porque nunca aprendeu a ofertar”.
CRIVELLA REBATE: ‘FORA DO CONTEXTO’
O livro classifica a Igreja Universal de “navio
salva-vidas”, e faz também críticas às religiões e à teologia, o estudo de
Deus: “A maior barreira entre Deus e o homem é a religião”; “Todos os ramos e
formas de Teologia são fúteis”; “A Teologia nada acrescenta à fé”, afirma.
Assim como “Evangelizando a África, escrito por Crivella,
“501 pensamentos do bispo Macedo” atribui as doenças à atuação do diabo: “Se
Deus fosse o autor de doenças e enfermidades, então os médicos seriam
instrumentos do diabo”. O diabo também é responsabilizado por levar “bilhões de
pessoas ao delírio das emoções através da arte, da música, dos esportes e,
sobretudo, das religiões”. Para Macedo, se essas emoções trouxessem felicidade,
o mundo seria “um mar de rosas”.
No prefácio, os editores do livro afirmam que “os bispos
Carlos Rodrigues e Marcelo Crivella ‘pinçaram’ dos escritos do bispo Macedo
pensamentos que são verdadeiras pérolas para aqueles que comungam da fé
cristã”. Rodrigues foi eleito deputado federal em 1999 e, em 2005, renunciou ao
mandato por envolvimento com o Mensalão — ele acabaria condenado pelo Supremo
Tribunal Federal.
Em nota enviada no início da noite de segunda-feira ao
GLOBO, o senador Marcelo Crivella (PRB) ressaltou que as frases de “501 pensamentos
do Bispo Macedo” não são de sua autoria e estão “fora do contexto histórico”. A
exemplo do que fizera semana passada, ele pediu desculpas caso tenha ofendido
alguém.
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