Em 4 de novembro de 2003, Rachel de Queiroz fazia sua última
viagem. Raquel, a pioneira cearense – primeira mulher a entrar na Academia
Brasileira de Letras, 1977 – conhecida pelas belas histórias contadas em suas
obras, o carinho que tinha pelas palavras, seja nas crônicas, nas peças de
teatro ou nos romances, ela era uma mulher à frente do seu tempo. Até na
politica Rachel de Queiroz enveredou e teve uma vida intensa.
A consagrada carreira de escritora e jornalista, parte dos
brasileiros já conhece, mas, na política é desconhecida pela maioria da
população brasileira. Rachel se tornou membro do Partido Comunista ao lado de
amigos de sua geração, uma turma politizada e ‘comunizada”, como relatou ela na
autobiografia Tantos Anos, de 1998. Foi presa duas vezes.
Em 1931, após passar dois meses no Rio de Janeiro – tinha
ido receber o Prêmio Graça Aranha, dado a O Quinze – Rachel volta ao Ceará, com
credenciais do Partido Comunista, já politizada e com a missão de promover e
reorganizar o Bloco Operário e Camponês, movimento político o qual ela tinha
participado.
Rachel passou a fazer parte do Partido Comunista, mesmo sem
ter feito uma ficha, assinado alguma ata. Aliás, não se podia deixar nenhum
rastro de papéis, livros ou qualquer tipo de documento, a polícia era brutal e
se pegasse algum vestígio, levava todos para a cadeia: às pessoas e os papéis. Com
a chegada de Getúlio Vargas ao Rio, a polícia ficou mais feroz.
Em 1937, com a decretação do Estado Novo de Getúlio Vargas,
os livros de Rachel de Queiroz foram proibidos e, num fato marcante, várias de
suas obras acabaram queimadas em praça pública em Salvador (BA), junto a livros
de Jorge Amado, José Lins do Rego e Graciliano Ramos, todos classificados de
subversivos.
O desligamento do Partido Comunista aconteceu após ela ver
censurado pelo próprio Partido o romance João Miguel. No romance João Miguel,
‘campesino’ bêbado, matava outro ‘campesino’. O aviso: só permitiria a
publicação da obra, se Rachel fizesse as modificações apontadas pelo presidente
do Partido Comunista. Segundo o Partido, a trama era carregada de preconceitos
contra a classe operária.
Jamais se curvou as imposições feitas a sua obra, Rachel de
Queiroz não aceitou as tais modificações exigidas pelo Partido Comunista, pegou
o original que tinha datilografado e saiu em disparada, como relatado por ela
no capítulo O Rompimento, da autobiografia Tantos Anos.
Em sua obra Caminho de Pedras (1937), Rachel trata desse
momento político que viveu no Partido Comunista, porque fazer política na
década de 20, ser comunista era muito perigoso. A ideia de comunismo era
distorcida e alguém que ousasse se apresentar como comunista pagaria um preço
alto, até com a própria vida.
Foi numa noite cheia de estrelas, dormindo em sua rede que
Rachel de Queiroz faleceu, em sua casa no Rio de Janeiro, em 4 de novembro de
2003.
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