Artigo de Marina Silva
Vou me permitir, mais uma vez, repetir o que venho dizendo
há tantos anos: a política deve ser entendida – e, sobretudo, praticada – como
serviço. A distorção desse entendimento predispõe ao ilegítimo e até ao
ilícito, pois os representantes da sociedade dela se separam e passam a operar
em benefício político próprio ou de seu grupo. Sua ação resume-se em manter o
poder para buscar mais poder.
Um exemplo clássico de proteção aos interesses da dita
“classe” política é o foro privilegiado, que torna real a “lei” denunciada pela
ironia de George Orwell n’A Revolução dos Bichos: todos são iguais, mas alguns
são mais iguais que os outros.
A sociedade já deu seu recado claro nessas eleições. Cerca
de 32,5% dos eleitores deixaram de votar ou não escolheram nenhum candidato da
disputa nesse segundo turno, cerca de 10,7 milhões de pessoas. No Rio de
Janeiro, a soma de votos nulos, brancos e abstenções ultrapassou a votação dada
ao candidato eleito. É como se os eleitores estivessem dizendo: se a política é
para alimentar privilégios, não vamos participar e vamos apoiar os que se dizem
não-políticos. O perigo dessa postura de negação é que, paradoxalmente, reforça
as práticas que tanto deseja combater.
Há uma longa e difícil tarefa de resgate da política como
serviço à sociedade. Ela começa pelo fim dos privilégios. Autoridades e
representantes devem incorporar a equidade que é base do Estado de Direito. Diz
o preceito bíblico que “antes, o maior entre vós seja como o menor; e quem
governa, como quem serve”. O povo tem um ditado que o complementa: “quanto mais
perto do rei, mais alta deve ser a forca”.
Isso nos leva à Operação Lava Jato, que já começou a fazer a
reforma política na prática. Devemos consolidá-la na lei, garantindo que a
punição aos crimes de corrupção seja integral, sem margem para manobras que
tentem manter impunidades e privilégios.
Qualquer tipo de anistia à prática de caixa dois pode tornar
inócuo o nobre e imprescindível objetivo de prevenir, combater e punir a
corrupção com os mesmos pesos e medidas para todos. Por isso transcrevo o que
publiquei em 19/07/2015, no artigo Justiça a Tempo:
“Precisamos estar alertas contra a manipulação política de
qualquer lado e contra todas as formas de pressão e intimidação sobre a
Justiça, o Ministério Público e a Polícia Federal. Quando as investigações
resultarem em provas e denúncias formais ao Supremo Tribunal Federal, devemos
exigir o afastamento dos que ocupam cargos cujos poderes possam interferir nas
decisões”.
Não podemos deixar aos denunciados qualquer alternativa ao
cumprimento do dever: pagar pelos erros que tenham cometido e rever suas
práticas e posturas.
finalmente acabaram os privilegios... e espero ver Mudanças Goiânia com os novos politicos eleitos
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